Nem sempre a poesia cinematográfica chega para construir um bom filme. Um filme que teria tudo para granjear o
afecto do espectador. Um tranquilo périplo pela cultura distante do Cazaquistão
e a reflexão sequente sobre a perda de influência das línguas periféricas face
à aculturação e hegemonia centralizadora do inglês mal-falado, das novas “falas”
digitais.
Didar (Yerdos Kanaev) é um
poeta mal reconhecido a olhar com distância a importância da sua própria tarefa,
o esforço tenaz que o faz escrever madrugada dentro enquanto a família dorme. Um
colega apresenta-lhe um industrial rico cazaque que lhe dará bom dinheiro se ele fizer o
elogio da fama e da fortuna da sua família. Entretanto, Didar embrenha-se na
história trágica de um poeta nacional, Makhambet Otemisulyque, que, no século XIX,
é assassinado por não acatar as ordens do poder vigente. O espectador vai
encontrar a duplicidade das personagens / actores no caminho paralelo dos dois escritores
e na silenciosa percepção de como é difícil, mesmo intransigente, a conciliação
da liberdade do artista com os ditames do poder.
Tudo no filme ditaria o
êxito cinematográfico para esta tão boa intenção. Contudo, ficamos apenas à
beira de um sopro, de uma chama, entre a insonsa etnografia e o voyeurismo geográfico.
E nem sempre de boas intenções o melhor cinema é feito.
jef, dezembro 2022
«Poeta» (Akyn / Poet)
de
Darezhan Omirbayev. Com Yerdos Kanaev, Aida Abdurakhman, Darezhan Omirbayev,
Klara Kabylgazina, Gulmira Khasanova, Serik Salkinbayev, Bolat Shanin.
Argumento: Darezhan Omirbayev. Produção: Yuliya Kim, Yerzhan
Akhmetov. Fotografia: Boris Troshev. Cazaquistão, 2021, Cores, 105 min.
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