Por
vezes, no início, uma voz off sobrepõe-se, como um pensamento crítico, à
cena e à própria voz de quem pensa. A voz nega e contradiz a acção e a palavra que está naquele momento a ser dita. Quem fala (sobrepondo) e que (nos) pensa é o
encenador Henrik Vogler que tem o hábito de ficar a dormitar, reflectindo, sobre a secretária em palco depois dos ensaios
de «O Sonho» de Strindberg. Henrik Vogler é representado por Erland Josephson
que representa Ingmar Bergman que encenou por mais de uma vez tal peça. Henrik
é interrompido na sua sonolência dramática por Lena Olin, a actriz que é Anna, que
anda a ensaiar o papel na peça de Strindberg, com o falso pretexto de procurar uma pulseira perdida. Anna confessa a Henrik que odeia a própria mãe Rakel (Ingrid
Thulin) que foi em tempos amante daquele e um dia também o visitou no palco vazio após um ensaio. Rakel regressa à cena, num segundo Tempo – Acto,
sublinhando a frase que conta como o teatro é a arte da repetição, e a repetição,
a arte da verdade e da sua própria negação. Como sugere a voz off.
Um
filme enorme e definitivo, encerrado no amor pelo teatro e na rejeição pelo pó de palco claustrofóbico em que aquele se encerra e consome. Tal como o passar do tempo e o confronto inexorável com a velhice.
Porém,
o palco, esse, nunca envelhecerá.
jef,
agosto 2024
«Depois
do Ensaio» (Efter Repetitionen) de Ingmar Bergman. Com Erland Josephson, Ingrid
Thulin, Lena Olin, Nadja Palmstjerna-Weiss, Bertil Guve. Argumento: Ingmar
Bergman. Produção: Jörn
Donner. Fotografia: Sven Nykvist. Suécia, 1984, Cores, 70 min.
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