segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Sobre o filme «Depois do Ensaio» de Ingmar Bergman, 1984


 






















Por vezes, no início, uma voz off  sobrepõe-se, como um pensamento crítico, à cena e à própria voz de quem pensa. A voz nega e contradiz a acção e a palavra que está naquele momento a ser dita. Quem fala (sobrepondo) e que (nos) pensa é o encenador Henrik Vogler que tem o hábito de ficar a dormitar, reflectindo,  sobre a secretária em palco depois dos ensaios de «O Sonho» de Strindberg. Henrik Vogler é representado por Erland Josephson que representa Ingmar Bergman que encenou por mais de uma vez tal peça. Henrik é interrompido na sua sonolência dramática por Lena Olin, a actriz que é Anna, que anda a ensaiar o papel na peça de Strindberg, com o falso pretexto de procurar uma pulseira perdida. Anna confessa a Henrik que odeia a própria mãe Rakel (Ingrid Thulin) que foi em tempos amante daquele e um dia também o visitou no palco vazio após um ensaio. Rakel regressa à cena, num segundo Tempo – Acto, sublinhando a frase que conta como o teatro é a arte da repetição, e a repetição, a arte da verdade e da sua própria negação. Como sugere a voz off.

Um filme enorme e definitivo, encerrado no amor pelo teatro e na rejeição pelo pó de palco claustrofóbico em que aquele se encerra e consome. Tal como o passar do tempo e o confronto inexorável com a velhice.

Porém, o palco, esse, nunca envelhecerá.


jef, agosto 2024

«Depois do Ensaio» (Efter Repetitionen) de Ingmar Bergman. Com Erland Josephson, Ingrid Thulin, Lena Olin, Nadja Palmstjerna-Weiss, Bertil Guve. Argumento: Ingmar Bergman. Produção: Jörn Donner. Fotografia: Sven Nykvist. Suécia, 1984, Cores, 70 min.

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