Convenhamos que as Hébridas, na costa ocidental da Escócia, é um complexo arquipélago de ilhas, ilhotas e rochedos que dificultam a tarefa de quem tenta contemplar a completa linha ocidental do horizonte. Habitadas ou nem tanto, as dezenas e dezenas de peças basálticas e antiquíssimas, atraem (ou atraíam) milhares de banhistas e observadores de natureza, competindo com os esforçados pescadores e trabalhadores locais – Oban, Iona, Seil, Staffa… com a sua críptica gruta Fingal.
Mesmo assim, o
horizonte até por vezes ficaria límpido e visível em toda a extensão caso
por ali não circulasse um tal estudioso de prodígios da Natureza chamado Aristobulo
Ursiclos, aturado cientista mas sem pingo de inteligência emocional para
reconhecer em Helena Campbell a alma escocesa de sensibilidade poética e com espírito
mais do que aventuroso. Esse Aristobulo, a quem alguém de aprimorada
capacidade artística e refinado humor propôs um dia o estudo da influência dos rabos de peixe nas ondulações do mar ou da influência dos instrumentos de sopro na
formação das tempestades.
Contudo,
era a essa personagem tão inteligente quanto burra que os tios-irmãos-quase
gémeos, Samuel e Sebastião Melvill, descendentes de um aristocrático clã das Terras
Altas escocesas, pretendiam dar a mão de sua estimada e caprichosa sobrinha
Helena.
Poucos
romances de Júlio Verne têm por móbil central o espírito romanesco e familiar como «O Raio Verde». Uma comédia bem humorada, digamos muito british, onde o
mordomo Partridge e a governanta Elizabeth viajando com eles a partir da quinta em
Helensburgh, fazem de sábio coro perante as diversas peripécias por que passa o grupo.
Claro que Aristobulo é o anti-herói, meio bobo e apalhaçado.
Como é óbvio, o herói chegará mais tarde.
Uma comédia inteligente e serena que passou pelo crivo acutilante de Éric Rohmer.
jef,
agosto 2024
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