Jeremias não conseguia não copiar. Para ele copiar era viver
porque tinha consciência de que o que mais gostava era não viver ou, pelo
contrário, e que fique bem claro, tinha uma certa vocação para adiar para
depois poder melhor copiar a vida. Não lhe interessava a originalidade.
Interessava-lhe a perfeição. E adiar era atingi-la!
Para além de copiar, Jeremias gostava muito de coleccionar
caricas e o que mais o satisfazia era seleccionar as tampinhas por estados e
estilos, cores e origens. Procurava-as no chão, junto à leitaria ou à tasca do
bairro. Seriava-las por refrigerante ou cerveja, pelo seu estado de
conservação. Gostava de as juntar acima de tudo pelas repetições, admirava-se como
elas se copiavam sem copiar. Todas iguais mas diferentes nas imperfeições.
Jeremias tinha na cave 10 estantes. Cada uma com 10 prateleiras.
Cada uma com 10 caixas de sapatos, das grandes. Quase cheias de caricas
diversas iguais.
Quando as caixas estivessem cheias, passaria a coleccionar as
tampinhas de plástico transparente, aquelas parecidas com pequenos chapeuzinhos
transparentes que selam as garrafas de 1 litro de mau vinho. Garrafas com
estrelinhas pelo gargalo, cobertas no topo por alumínio colorido. Cabiam
mesmo bem no interior da carica, davam-lhes estilo, ossatura, peso. E depois
ainda podia ir para a rua jogar à carica. Os amigos ficariam cheios de inveja.
Ou, então, instalava na cave mais 1 estante com 10
prateleiras. Pois as 10 caixas de sapatos, das melhores, já ele as tinha
guardado.
jef, agosto 2017
delicioso...!!!
ResponderEliminarObrigado meu leitor dilecto!
ResponderEliminar