Em
2015, de Stéphane Brizé, tinha-nos chegado «A Lei do Mercado», essa composição
fechada sobre o individuo que se vê manietado, agredido, pela fúria económica
da sociedade. Assim, a mesma sociedade, cento e tal anos antes, vem enclausurar
Jeanne (Judith Chemla) em «A Vida de Uma Mulher». O mesmo realismo, a mesma
opressão, neste caso, a resignação de uma mulher que tenta a todo o custo preservar
a imagem de uma felicidade adolescente que ficou encerrada três décadas antes.
A
bela Normandia, a folhagem do belo arvoredo, ficam de fora dos enquadramentos. Estão
de volta os planos fechados sobre a figura delicada de Jeanne que se afasta lentamente da suavidade alegre e despreocupada da juventude. O realizador avisa
que a história teve um início feliz, em alegres e ensolaradas analepses (os
tais flashbacks), mas que o fim será sombrio, insistindo em toldar o futuro com
sombrias prolepses (digamos, flashforwards). Avisos estes que se sobrepõem às
palavras do romance inicial de Guy de Maupassant.
A
criação aristocrática de Jeanne por Judith Chemla pode ser comparada a Vincent
Lindon em «A Lei do Mercado», tal o expressionismo corporal dos actores ultrapassando bem o rigor do close-up. Mais nada interessa que o realismo
romântico da tristeza ditado pelo inclinar da nuca ou pelo tactear instável dos dedos no
tampo de uma mesa.
A
beleza do movimento, da textura do tecido, do cravo tocado em fundo quando se
ouvem passos, o ladrar dos cães ou o relógio, em primeiro plano, descrevem a
deliberada aproximação do espectador aos objectos desejada pelo realizador.
Um
bom exercício de estilo, estética e moralidade, será confrontar «A Vida de Uma
Mulher» com o mais recente filme «Lady Macbeth» de William
Oldroyd (2017).
jef,
agosto 2017
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