O
ministério do mal.
Mais
do que teorizar sobre o mal, a sua origem ou as suas consequências, «Lady
Macbeth» é um filme sobre o impulso para a solidão.
Mas
primeiro falemos sobre a luz deste filme. Uma luz que impressiona e caracteriza
os contornos nus do austero mobiliário ou o brilho quase macabro dos vestidos
de Katherine Lester, quando esta circula pela austera mansão do seu velho
marido. Lembra «Fanny & Alexander» (Ingmar Bergman, 1982) quando as
crianças entram na prisão do padrasto. Lembra Vermeer mas sem qualquer alegria,
sem traço do ouro ou do azul ou do ocre desse tardio e luminoso renascimento.
Dentro de portas tudo é soturno. Até o amor consumado. Lá fora, a floresta
minuciosa ou a paisagem aberta sob as nuvens podiam pertencer ao realismo
romântico de Corot ou ao modernismo anacrónico de Turner. Tudo seria bucólico
se a espera não fosse tempestiva.
Os
quadros são belíssimos e maléficos. A sustentá-los está um abandono doentio que
vai sendo conduzido pela solidão. Não a solidão que desejamos ou a solidão que
nos é oferecida pelo tempo. Uma solidão que exige a solidão plena, que abomina
o compromisso e reclama a morte, a plenitude do espaço por partilhar.
A
composição de Katherine Lester pela actriz Florence Pugh sugere, inicialmente,
a complacência pela jovem aprisionada no modo da moral luterana mas, depois,
deixa-nos à mercê da vocação para o mal amoral. Lembrei-me de «O Intruso» de
Luchino Visconti (1976). Pode Katherine Lester ficar impune mas está
absolutamente só.
Um
excelente ensaio que leva o espectador a reflectir sobre a pulsão para o mal e
a dimensão colorida da luz.
jef, julho 2017
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