terça-feira, 1 de agosto de 2017

Sobre o filme «Lady Macbeth» de William Oldroyd, 2016















O ministério do mal.
Mais do que teorizar sobre o mal, a sua origem ou as suas consequências, «Lady Macbeth» é um filme sobre o impulso para a solidão.
Mas primeiro falemos sobre a luz deste filme. Uma luz que impressiona e caracteriza os contornos nus do austero mobiliário ou o brilho quase macabro dos vestidos de Katherine Lester, quando esta circula pela austera mansão do seu velho marido. Lembra «Fanny & Alexander» (Ingmar Bergman, 1982) quando as crianças entram na prisão do padrasto. Lembra Vermeer mas sem qualquer alegria, sem traço do ouro ou do azul ou do ocre desse tardio e luminoso renascimento. Dentro de portas tudo é soturno. Até o amor consumado. Lá fora, a floresta minuciosa ou a paisagem aberta sob as nuvens podiam pertencer ao realismo romântico de Corot ou ao modernismo anacrónico de Turner. Tudo seria bucólico se a espera não fosse tempestiva.
Os quadros são belíssimos e maléficos. A sustentá-los está um abandono doentio que vai sendo conduzido pela solidão. Não a solidão que desejamos ou a solidão que nos é oferecida pelo tempo. Uma solidão que exige a solidão plena, que abomina o compromisso e reclama a morte, a plenitude do espaço por partilhar.
A composição de Katherine Lester pela actriz Florence Pugh sugere, inicialmente, a complacência pela jovem aprisionada no modo da moral luterana mas, depois, deixa-nos à mercê da vocação para o mal amoral. Lembrei-me de «O Intruso» de Luchino Visconti (1976). Pode Katherine Lester ficar impune mas está absolutamente só.
Um excelente ensaio que leva o espectador a reflectir sobre a pulsão para o mal e a dimensão colorida da luz.

jef, julho 2017

«Lady Macbeth» de William Oldroyd. Com Florence Pugh, Christopher Fairbank, Cosmo Jarvis, Ian Conningham. Segundo romance russo de Nikolai Leskov «Lady Macbeth de Mtsenk». 2016, Grã-Bretanha, Cores, 89 min.

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