É um filme sobre a condição do trabalho e como a degradação deste
ou, em última análise, a sua ausência abrupta pode fazer derrapar o ser humano
até ao desespero insano.
De César Valejjo (1892-1938) vem a epígrafe, mil vezes ouvida:
«Amado seja o que se senta».
Pode haver quem se ria (e este filme tem um humor tácito que
cruza Bergman com Fellini ou Tati ou Monty Python) mas esse ficará pálido depois.
Como os personagens, desfeitos, de cara empoada, olhos vermelhos, feridos, a um
passo do sacrifício humano, da venda de Cristo Crucificado, por grosso ou a retalho.
Talvez seja melhor imolar uma criança por outra.
Este filme é sobre a Cidade
metafórica onde os penitentes do quotidiano tentam sobreviver com aflição moral
e muita dor física. Quem se dedica à poesia enlouquece, e se alguém se dedica
ao trabalho, perde-o. O trânsito está péssimo e quem leva a vida a tentar
colocar comida na mesa e a divertir-se um pouco, é melhor pensar duas vezes. Pode
sentir-se dentro do resignado mas potencialmente lutador Coro dos Escravos
Hebreus, se viajar de metro. Pode incendiar o local de trabalho. Mas perde
sempre.
Nós, os espectadores, podemos sorrir, rir até, sentirmo-nos
perdidos dentro do absurdo da cidade e da dor mas não devemos esquecer que
estamos sempre face a duas narrativas em simultâneo. No cinema de Roy
Andersson como na vida.
A não esquecer, igualmente, o tema musical entre o modo barroco e o modo
popular de Benny Andersson.
jef, janeiro 2018.
«Canções do Segundo Andar» (Songs From The Second Floor /
Sånger från andra våningen) de Roy Andersson. Com Bengt
C.W. Carlsson, Lars Nordh, Stefan Larsson, Torbjörn Fahlström, Rolando Núñez.
Fotografia: István Borbás;
Jesper Klevenås; Música: Benny
Andersson. Suécia,
2000, Cores, 98 min.
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