O que mais encanta no filme é um certo romantismo desprendido, sem dogmas e
explicações, perseguições ou represálias, sobre um amor primeiro que, teria
tudo para ser «proibido». Mas não é. Nem sequer tem lições moralizantes ou
tragédias mórbidas. Apenas o seu fim, natural. Tudo corre através das
indolentes paisagens do Norte de Itália, ao som das canções de Sufjan Stevens («The Mistery of Love»,«Visions of Gideon», «Call Me By Your Name»).
1983. Durante umas tranquilas férias, Elio (Timothée Chalamet)
aproxima-se de Oliver (Armie Hammer), académico americano que chega por umas
semanas para ajudar as pesquisas arqueológicas do pai de Elio (Michael
Stuhlbarg). Elio tem 17 anos, Oliver, 24.
Como em todas as férias grandes de Verão pouco se passa e
essa tranquila inactividade vai sendo tomada pela paixão, algo velada,
sustentada mais por mal entendidos ou displicente distracção, do que por requebros
de amor. No início.
O actor Timothée Chalamet faz o pleno, num papel de estrutura
dramática complexa. Aparece suave mas determinado, impaciente mas firme, sobranceiro
mas ingénuo, dentro de cenas consecutivas de jardins vislumbrados, portas
entreabertas, janela discretas. Talvez o romance de André Aciman ou o argumento
de James Ivory - «Quarto com Vista sobre
a Cidade» (1986) ou «Regresso a Howards End» (1992) - , confira ao filme a aura
de ‘romantismo renascentista’. E, claro, a fotografia de Sayombhu Mukdeeprom…
Contudo, a meio, o filme vai-se perdendo em cenas e pequenos
episódios que vão confundido a emotividade das personagens, certamente
arrastadas por Armie Hammer, um Oliver muito belo mas um tanto inexpressivo,
sem pulso para acompanhar Timothée Chalamet, afastando-se assim da expressividade da estatuária greco-latina cujas imagens surgem no ecrã.
Felizmente que as personagens do pai e da mãe de Elio
(Michael Stuhlbarg e Amira Casar) vão crescendo ao longo do filme, acompanhando a
história e o actor principal. Corrijo o primeiro parágrafo. O discurso que o pai faz ao filho é mesmo uma lição moral e conclui o filme de modo brilhante. E ainda temos Esther Garrel, a
namoradinha de Elio, Marzia.
Um belo e terno filme para confirmar que a memória da
primeira paixão deve ser guardada, não como trauma pelo seu termo, mas com a
alegria de ter sido vivida.
jef, janeiro 2018
«Chama-me
pelo Teu Nome» (Call Me by Your Name) de Luca Guadagnino. Com Armie Hammer,
Timothée Chalamet, Michael Stuhlbarg, Amira Casar, Esther Garrel, Victoire Du
Bois. Fotografia: Sayombhu Mukdeeprom. Segundo o romance de André Aciman.
Canção de Sufjan Stevens. EUA/ Brasil / Itália / França, 2017, Cores, 132 min.
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