quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Sobre o filme «Chama-me pelo Teu Nome» de Luca Guadagnino, 2017

















O que mais encanta no filme é um certo romantismo desprendido, sem dogmas e explicações, perseguições ou represálias, sobre um amor primeiro que, teria tudo para ser «proibido». Mas não é. Nem sequer tem lições moralizantes ou tragédias mórbidas. Apenas o seu fim, natural. Tudo corre através das indolentes paisagens do Norte de Itália, ao som das canções de Sufjan Stevens («The Mistery of Love»,«Visions of Gideon», «Call Me By Your Name»).

1983. Durante umas tranquilas férias, Elio (Timothée Chalamet) aproxima-se de Oliver (Armie Hammer), académico americano que chega por umas semanas para ajudar as pesquisas arqueológicas do pai de Elio (Michael Stuhlbarg). Elio tem 17 anos, Oliver, 24.

Como em todas as férias grandes de Verão pouco se passa e essa tranquila inactividade vai sendo tomada pela paixão, algo velada, sustentada mais por mal entendidos ou displicente distracção, do que por requebros de amor. No início.

O actor Timothée Chalamet faz o pleno, num papel de estrutura dramática complexa. Aparece suave mas determinado, impaciente mas firme, sobranceiro mas ingénuo, dentro de cenas consecutivas de jardins vislumbrados, portas entreabertas, janela discretas. Talvez o romance de André Aciman ou o argumento de James Ivory  - «Quarto com Vista sobre a Cidade» (1986) ou «Regresso a Howards End» (1992) - , confira ao filme a aura de ‘romantismo renascentista’. E, claro, a fotografia de Sayombhu Mukdeeprom…

Contudo, a meio, o filme vai-se perdendo em cenas e pequenos episódios que vão confundido a emotividade das personagens, certamente arrastadas por Armie Hammer, um Oliver muito belo mas um tanto inexpressivo, sem pulso para acompanhar Timothée Chalamet, afastando-se assim da expressividade da estatuária greco-latina cujas imagens surgem no ecrã.

Felizmente que as personagens do pai e da mãe de Elio (Michael Stuhlbarg e Amira Casar) vão crescendo ao longo do filme, acompanhando a história e o actor principal. Corrijo o primeiro parágrafo. O discurso que o pai faz ao filho é mesmo uma lição moral e conclui o filme de modo brilhante. E ainda temos Esther Garrel, a namoradinha de Elio, Marzia.

Um belo e terno filme para confirmar que a memória da primeira paixão deve ser guardada, não como trauma pelo seu termo, mas com a alegria de ter sido vivida.

jef, janeiro 2018


«Chama-me pelo Teu Nome» (Call Me by Your Name) de Luca Guadagnino. Com Armie Hammer, Timothée Chalamet, Michael Stuhlbarg, Amira Casar, Esther Garrel, Victoire Du Bois. Fotografia: Sayombhu Mukdeeprom. Segundo o romance de André Aciman. Canção de Sufjan Stevens. EUA/ Brasil / Itália / França, 2017, Cores, 132 min.

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