Com «O
Labirinto do Fauno» (2006), Guillermo del Toro criou uma nova fronteira para a fantasia no
cinema, lançou raízes para uma estética do imaginário diversa,
tornou mais adulta uma certa criatividade que se associa à mente infantil,
suspeito que bastante erradamente. A expectativa foi lançada. Ficámos em guarda
para o filme seguinte. Hollywood sonhou. O dinheiro chegou prolixo. A obra
nasceu. «A Forma da Água». Choveram os prémios, até por Veneza! Também um monte
de nomeações para os globos de ouro e para os óscares!
Fins
dos anos 50 ou início dos 60, a guerra fria, os russos, a espionagem, os muito
maus, a discriminação feminina, da raça negra, da orientação sexual, dos mudos.
O assédio. A aceitação da diferença. Um conjunto extraordinário de Cadillacs.
Uma
banda sonora do superactivo Alexandre Desplat, secundado por uma vintena de
canções maravilhosas.
Um conjunto de actores
de excelência: Sally Hawkins («Blue Jasmine» Woody Allen, 2013), Octavia
Spencer («Fruitvale Station – A Última Paragem», Ryan Coogler, 2013), Michael
Shannon («Polícia Sem Lei», Werner Herzog, 2009), Richard Jenkins («Sete Palmos
de Terra», Nathaniel Fisher, 2001-2005), Michael Stuhlbarg («Chama-me pelo Teu
Nome», Luca Guadagnino, 2017).
Um
mundo inundado pelo fogo-fátuo da cenografia espampanante!
E para
quê?
A fantasia
no cinema é coisa deveras complicada de fazer. Perguntem ao fazedores de
obras-primas: Victor Fleming («O Feiticeiro de Oz», 1939), Robert Stevenson («Mary Poppins, 1964), Stanley
Kubrick («2001, Odisseia no Espaço», 1968), Steven Spielberg («.E.T. – O Extra-Terrestre»,
1982), Tim Burton («Eduardo Mãos de Tesoura», 1990), …
Na minha
modesta opinião, não basta uns quantos temas da moda, dinheiro e nomeações para
óscares. A fantasia merece um guião plausível, contenção, humildade e aquele
toque de génio que espevita a memória criativa do espectador para que este construa
o que não existe!
jef, janeiro 2018
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