É um
filme deslumbrante.
Vivam estes três enormes actores: Daniel Day-Lewis (Reynolds Woodcock), Vicky Krieps (Alma)
e Cyril (Lesley Manville) que se desdobram em planos grandes de uma tensão
luminosa, em guerrilha amorosa, de cortar a respiração, numa luta surda entre o
amor, o poder, a solidão e a angústia pela perfeição no trabalho, pela ausência
do resto, pelos segredos, pelos silêncios! Pela obsessão do ritual!
E não são apenas as tesouras a esgarçar os tecidos, ou as costureiras, perfeitas, a
costurar o assombro, ou a música original de Jonny Greenwood (é um pecado
sair-se da sala sem que terminem os últimos acordes). É o ódio instalado no
rosto de Reynolds quando é importunado pelo raspar da faca na torrada áspera, o
chá a cair de alto em fio na chávena, preponderante, invasivo. O som
impressiona visivelmente!
Tudo envolto
num guarda-roupa tão inesquecível quanto o são os chapéus nas corridas de Ascot
em «My Fair Lady» (George Cukor, 1964) ou os vestidos no baile em «O Leopardo» (Luchino
Visconti, 1963).
O
confronto dos olhares de Reynolds, Alma e Cyril é único. Quem primeiro baixar os
olhos, é fulminado! Nesta guerra dos comportamentos exemplares, da exemplar
educação, do mais fino rancor contido, do amor mais aflitivo, ninguém perde. Por
isso, também ninguém morre!
E se
houver dúvida sobre a importância visual e sonora deste filme que se reveja a
cena fulcral da confecção, apresentação e deglutição da omelete de cogumelos.
Apenas fica
o espectador mesmo a ganhar com o esplendor da luz nas escadas, com esse amor infinito.
Repito:
este é um filme deslumbrante! Viva o cinema digital!
jef, fevereiro 2018
«Linha
Fantasma» (Phantom Thread) de Paul Thomas Anderson. Com Daniel Day-Lewis, Lesley Manville, Camilla
Rutherford, Vicky Krieps. Fotografia: Paul Thomas Anderson, Música: Jonny Greenwood,
Guarda-roupa: Mark Bridges. EUA, 2017, Cores, 130 min.
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