Sim. Nutro um amor especial por Julie Delpy. Começou
por uma paixão colectiva juntamente com o actor Ethan Hawke, unidos nos filmes de Richard Linklater. «Antes do Amanhecer» (1995), «Depois do
Anoitecer» (2004), «Depois da Meia-noite» (2013).
Julie Delpy faz filmes inteligentes, contidos e carregados de
uma alegria emocionante, familiar, onde as relações afectivas tomam o lugar principal
na cadeia narrativa. A ‘família’ é a própria história. A ironia é uma das suas
armas, outra será esse modo humano de dizer que todos querermos ser diferentes apesar de parecermos todos iguais. Ela é meio francesa e meio americana e usa o facto para brincar
com o tradicional confronto, sempre com um pé num continente e outro no
seguinte. Um pé na realização, outro na representação ou no argumento. Trabalha
com amigos e isso nota-se na epiderme das suas comédias. Filma de modo
descomprometido, como se estivesse em casa, e ainda consegue colocar os filmes no
circuito comercial.
Em «O Verão do Skylab», é anunciada a possibilidade de queda
de um pedaço do famoso satélite em solo francês, mais concretamente na Bretanha
onde a família da avó Amandine está reunida para comemorar o seu aniversário.
Julho de 1979. Amandine tem seis filhos, respectivos genros ou noras, uma
carrada de netos. Vive ainda com ela um irmão que vive num mundo à parte, o Tio
Hubert (Albert Delpy, pai da realizadora e cúmplice frequente nas suas
aventuras).
O filho Jacquot é casado com Anna. São pais
de Albertine que tem 10 anos e ficará com a avó o resto das férias. Jacquot e
Anna chegam de Paris, são intelectuais e de esquerda, trazem o Maio de 68 na
ponta da língua. Mas são os únicos. Por isso, a aniversariante roga para que não se
discuta política à mesa. Nem a liberdade, nem a emancipação da mulher, nem a
Indochina, nem a Argélia. Mas Jacquot, tal como a realizadora, gosta de
discutir e contar histórias. (A história da sereia e do tubarão quando se dirigem para a praia de Renault 4, é única!)
«O Verão do Skylab» é um filme muito simples, com um monte de
personagens que, afinal, se reúnem num apenas. A família. Ali estão todos os assuntos
que lhe dizem respeito, num certo país, numa certa época, e de modo
encantadoramente inocente, trocista, carinhoso…
É bom rever «O Verão do Skylab»
quando o frio ainda nos lembra o solstício de Inverno.
jef, fevereiro 2018
«O Verão do Skylab» (Le Skylab) de Julie Delpy. Com Julie
Delpy (Anna), Noémie Lvovsky (Tia Monique), Bernadette Lafont, (Avó Amandine),
Emmanuelle Riva (Avó Prévost – Mémé), Eric Elmosnino (Jean), Marc Ruchmann (Tio
Loulou), Lou Alvarez (Albertine), Vincent Lacoste (Christian), Aure Atika (Tia
Linette), Sophie Quinton (Tia Clémentine), Valérie Bonneton (Tia Micheline), Denis
Ménochet (Tio Roger), Jean-Louis Coulloch (Tio Fredo), Michelle Goddet (Tia
Suzette), Albert Delpy (Tio Hubert), Candide Sanchez (Tio Gustavo), Lily Savey (Sissi),
Chloé Antoni (Valérie), Maxime Julliand (Pierre), Félicien Moquet (Jean-Luc),
Antoine Yvard (Philippe), Anne-Charlotte Moquet (Catherine),
Angelo Souny (Henri), Léo Michel-Freundlich (Robert), Noah Huntlez (Jonathan), Karin
Viard (Albertine adulta), Lee Delong (Jessica). França,
2011, Cores, 109 min.
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