Se existe um filme que crie um desconforto continuo,
crescente, um suspense confrangedor colocado no estômago do espectador, esse
filme é «Harry, um Amigo ao seu Dispor».
Se existe família mergulhada no sofrimento do quotidiano, ela
é a de Michel (Laurent Lucas), de Claire (Mathilde Seigner) e das suas três
filhas pequeninas, Jeanne (Victoire de Koster), Sarah (Laurie Caminata) e Iris (Lorena Caminata).
Se existe amigo pronto para ajudar Michel, de memória e determinação
ferozes, antigo colega de liceu, passeando por França com a sua namorada Prune
(Sophie Guillemin), é ele Harry Balestero (Sergi López).
Se existe argumento hitchcockiano servido por uma cadeia de
situações estratégicas, embora inverosímeis, oferecido a actores em estado de
excelência, é o deste filme.
Um filme, digamos diabólico e amoral, feito à medida de um
magnífico Sergi López que dá a dimensão da perversidade do personagem de modo
luminoso e sub-reptício, fazendo o espectador desejar esquecer os preceitos
judiciais do Ocidente para devolver àquela família o rumo da felicidade. A todo
o custo. Não interessa o preço.
Existe um humor fino, delirante, simbolicamente ‘ilegal’ e ‘surrealizante’,
a unir este Michel, sério pai de família, abnegado e escritor frustrado, e uma
outra personagem, Michèle, criada por Isabelle Hupert para Paul Verhoeven no
filme «Ela» (2016).
«Harry, um Amigo ao seu Dispor» é um policial sem polícias,
que faz acreditar que as coincidências do destino são dados a jogar ao sabor da
realidade intriguista.
jef, fevereiro 2018
«Harry, um Amigo ao seu Dispor» (Harry, un ami qui vous veut
du bien) de Dominik Moll, 2000. Com Sergi López, Laurent Lucas, Mathilde
Seigner, Sophie Guillemin, Liliane Rovère, Dominique Rozan, Michel Fau, Victoire de Koster, Laurie
Caminata, Lorena Caminata. Música: Davi Sinclair Whytaker. França, 2000, Cores,
117 min.
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