Como no filme «Fados» de Carlos Saura (2007), onde o fado
ultrapassa o cineasta como personagem e estética, tão grande e diversa a escolha entre o material disponível, também em «O Nosso Último Tango» German Kral não
teve mãos a medir. O tango, essa cultura de estética viva, um tanto acrobática,
um tanto agressiva, mas colossalmente popular e visualmente atractiva, não se poderá resumir a planos sucessivos de caminhadas pelas ruas e entradas em
salões que já fizeram a sua época nos anos 40-50 no século
passado.
Por outro lado, a reconstituição dos tempos infantil e
juvenil de María Nieves sai um pouco pífia relativamente aos magníficos grandes
planos e à força da natureza que foi (e ainda é) a vontade da famosa bailarina
de tango que marcou a cultura de Buenos Aires. Tão grande ela é que eclipsa (no filme)
a presença do seu par e coreógrafo durante 40 anos que é Juan Copes. Erro de
narrativa ou impossibilidade de investigação?
O realizador German Kral podia ter evitado um pouco mais as
coreografias representativas da complicada vida do casal, entrecortadas por
ensaios e entrevistas, deixando a cronologia seguir o seu próprio rumo. Nesse
ponto, recordo com entusiasmo um outro musical «À Procura de Sugar Man» de
Malik Bendjelloul (2012).
Mas três coisas são indiscutíveis no filme: (a) María Nieves
ensina-nos a querer não desistir, ficando-me a ideia de uma espécie de Elis Regina do tango. (b) María Nieves e
Juan Copes são dançarinos absolutamente excepcionais. (c) O tango é uma dança
que sai dos corpos dos bailarinos como uma exsudação extraordinária.
jef, fevereiro 2018
«O Nosso Último Tango» (Un Tango Más) de German Kral. Com María
Nieves Rego e Juan Carlos Copes Documentário, Musical. Itália / Alemanha /
Argentina, 2015, Cores, 85 min.
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