O que atrai no documentário de Andres Veiel é o próprio
objecto em que se centra: o artista alemão Joseph Beuys. Um ser superactivo e
fremente, aguardando que o dia que chegará venha resgatar a liberdade
do artista que vê na arte o objecto imprescindível para transformar a
sociedade. A arte, o tal objecto ao alcance de todos, assim como deviam ser a
academia e a política. A arte, a ser praticada e criticada por todos, o
verdadeiro trampolim para um certo novo mundo surgido de uma revolução e de um
sorriso.
Tento recordar.
Joseph Beuys correu muito e criou polémica. Naturalmente,
divertiu-se.
Estudou medicina, serviu a Luftwaffe, teve um acidente na
Crimeia. Quase morreu. Foi salvo pelos tártaros que o curaram com gordura e
cobertores de feltro. Usou a gordura de porco em degradação em salas de
exposição, forrou pianos e galerias de feltro. Executou «A Matilha», com uma
carrinha Volkswagen e 24 trenós. Mostrou-se como era, com uma lebre morta nos
braços. «Como Explicar Desenhos a uma Lebre Morta» Em Kassel, pretendeu
disseminar 7.000 carvalhos por 7.000 pedras que se espalhariam para outras
cidades. «7.000 Eichen». Em Nova Iorque, fechou-se durante dias numa sala com um coiote. «Eu
Gosto da América e a América Gosta de Mim». Fundou diversos movimentos estudantis,
ajudou a organizar o partido Os Verdes. Foi expulso da academia por
insubordinação. A sua obra foi exibida em retrospectiva no Museu Guggenhein de
Nova Iorque.
Nasceu em Krefeld, 1921. Faleceu em Düsseldorf, 1986.
Teve uma vida do caraças, pelo que me é dado perceber
através de um documentário apressado, caótico, tentando imitar a pressa
estética do artista mas esquecendo que existem apenas três ou quatro modos de
contar uma história, seja ela ficção ou documental. Fiquei confuso a desejar
saber mais sobre a obra, não sobre a fascinante persona «Beuys». Um filme deslumbrado por
um milhão de belos retratos de Beuys mas que, por superávido, ultrapassam a
própria estética criada por um ser angustiado e bondoso, triste e enérgico, que
não tinha tempo para dormir.
Qualquer coisa de aventureiro, solitário, estético e
intransigente. Qualquer coisa de Jacques Brel, qualquer coisa de Tintin.
jef, fevereiro 2018
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