Penso. Neste filme, Julie Delpy talvez tenha ido longe de mais
na caricatura de franceses e americanos.
Após a chegada à Europa para uma viagem de comboio até
Veneza, e numa relação algo implicativa, Marion (Julie Delpy) e Jack (Adam
Golberg), ela francesa, ele americano, regressam a Paris por dois dias para
buscar o gato deixado, entretanto, na casa dos pais de Marion. Mas se a viagem
a Itália não correu bem, a estadia em França não correr melhor.
Penso. Afinal, a caricatura vem de dentro, vem de quem
conhece os dois lados, geneticamente. Como franco-americana, Julie Delpy pode
brincar não só com americanos e franceses mas, acima de tudo, com o estereótipo
que usualmente se constrói em torno dos dois povos. Até deve e tem o direito a
essa brincadeira. O riso é o modo de melhor e mais sábio de sermos esclarecidos
sobre qualquer assunto. Diria o grande escritor Rui Cardoso Martins.
Se as situações são reais, garanto, não o são. Se o fossem
não era cinema, não era teatro. Jamais, em dois dias, Marion encontraria tantos
ex-namorados, e Jack não se confrontaria com tantos medos paranóicos. Nunca
Paris pareceria tão coincidentemente apaixonada. Em «2 Dias em Paris», Julie
Delpy diverte-nos com os clichés mas sempre dando uso ao seu coração cheio de
amabilidade familiar e urbana inteligência.
Penso. O filme é bem melhor do que esperaria. A cena final
invoca uma das cenas fundamentais do cinema mundial. Os derradeiros minutos de
«Viagem em Itália» de Roberto Rossellini (1954). Brincar com o intocável é de
mestre!
jef, fevereiro 2018
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