sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Sobre o filme «Le Havre» de Aki Kaurismäki, 2011


















Se a Bíblia admitisse o humor como fundamento da comunicação e da inteligência humanas, certamente acolheria Aki Kaurismäki como profeta da esperança e o filme «Le Havre» como a epístola de ‘O Lucro da Bondade’.

Aqui, são todos absolutamente humildes, generosos, delicados e dedicados. Todos sorriem discretamente, a começar por Laika, a cadela gentil.

Marcel Marx (André Wilms) abandona a escrita e estabelece-se como engraxador na cidade portuária de Le Havre. Conta os tostões. Tem um amigo engraxador chinês, que afinal é vietnamita, Chang (Quong-Dung Nguyen). É casado com Arlety (Kati Outinen). Antes de chegar a casa, passa pela padaria e pela mercearia, bebe um copo no bar predilecto. Por aí encontra os amigos.

Até que a sua mulher adoece gravemente e o acaso leva-o a encontrar-se com um adolescente refugiado africano, Idrissa (Blondin Miguel) que deseja reunir-se com a mãe, no Reino Unido. Então Marcel tem de desunhar-se, calmamente, sem abandonar a lisura e a boa educação, na tentativa de atingir todos os objectivos em simultâneo.

Esteticamente, todos os objectos estão sob uma luz determinada para que a cor os transforme em lugares cenográficos que demonstram ao espectador a ânsia de benquerença de Marcel e dos seus vizinhos e amigos.

Nesta pastoral sobre os benefícios lucrativos da amizade e da boa convivência até o inspector da polícia (Jean-Pierre Darroussin) tem um coração de oiro e a cerejeira ergue-se florida no quintal para receber Marcel e Arlety.

Seria bom que os grandes livros dos fundamentos da moral do homem admitissem o humor e a bondade como postulados a partir dos quais se ergueria a nova sociedade, tal como advoga Aki Kaurismäki na parábola «Le Havre». Bem, e se admitissem igualmente o cigarro como um dos grande prazeres da humanidade.

jef, fevereiro 2018
                                                              
«Le Havre» de Aki Kaurismäki. Com André Wilms, Jean-Pierre Darroussin, Blondin Miguel, Kati Outinen, Elina Salo, Jean-Pierre Léaud, Evelyne Didi, Pierre Étaix, Quoc Dung Nguyen, Little Bob, Ilkka Koivula, Laika, François Monnié. Fotografia: Timo Salminen. Alemanha / França / Finlândia, 2011, Cores, 89 min.

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