Reduzir o discurso amoroso ao ponto de lhe retirar até a
centelha de ridicularia a que tem direito, como Pessoa sublinhou, banalizando-o
durante hora e meia, é também retirar-lhe o senso, o pathos, a sinceridade do
sentimento, a própria filosofia. Venham as palavras de onde vierem.
Claire Denis tem na mão uma das melhores actrizes do mundo (das mais belas também) e
coloca-a, logo de início, sob o fogo dessa tal banalidade, numa cena de sexo,
atroz, inestética, longa demais, como todas as que lhe seguem. E para quê expor
Juliette Binoche a tão degradantes cenas, sob um guarda-roupa tão desajustado,
em que nunca se observa o centro do cenário ou se justifica o
campo-contra-campo?
Pouco depois, surge outra cena feíssima. A do bar. A seguir
vêm mais, umas a seguir às outras, até culminar com a do cartomante, um Gérard
Depardieu caído do nada, ou saído do automóvel de Valeria Bruni Tedeschi, mas que
salva o genérico final falando intensamente sobre nada. Reserve o espectador pois o
contracenar desses dois grandes actores!
Recorde-se ainda a cena na casa de banho onde Juliette
Binoche faz o impossível para revelar o seu génio. E revela!
Para mim, Juliette Bonoche será sempre a Juliette Binoche de,
por exemplo, Abbas Kiarostami («Cópia
Certificada», 2010, « «Shirin»,
2008) ou de Michael Haneke («Nada a Esconder», 2005), e procurarei esquecer a fealdade deste filme! O cinema deve procurar, antes demais, o sentido da beleza!
jef, janeiro 2018.
«O Meu Belo Sol Interior» (Un Beau Soleil Intérieur) de
Claire Denis. Com Juliette Binoche, Xavier Beauvois, Philippe Katerine, Josiane
Balasko, Valeria Bruni Tedeschi, Gérard Depardieu. Bélgica / França, 2017,
Cores, 94 min.
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