O exercício que Philippe Garrel faz com este filme é um exercício
de simplificação. Um exercício que tem vindo a aprofundar e que ficou muito
explícito em «À Sombra das Mulheres» (2015) ou «Ciúme» (2013).
Gilles (Éric Caravaca) é professor de filosofia e namora há
pouco tempo com Ariane (Louise Chevillotte), sua aluna. Uma noite, bate à porta
a filha Jeanne (Esther
Garrel) que, sem saber muito bem como, saiu com a mala de casa do namorado.
Ariane e Jeanne têm 23 anos.
A fotografia é a preto e branco (Renato Berta) e,
delicadamente, mostra espaços enclausurados, paredes riscadas, escadas velhas,
estantes atravancadas. Ruas vazias. Uma janela aberta, uma tentativa de suicídio.
Talvez seja o primeiro segredo a unir um trio que nunca se abandona mas que vai
ficando entre aquilo que não vê mas o espectador observa. Até que o olhar de
Gilles se sobrepõe ao do espectador.
Se algo fica por esclarecer, uma bela voz-off retira a dúvida.
O genérico só aparece na sequência das primeiras cenas. Também o tema musical (Jean-Louis
Aubert). A cumplicidade deve manter-se mesmo que as personagens se afastem. E a
vida prossegue. Como um jogo sem muito sentido aparente. Philippe Garrel torna o
espectador cúmplice dos jogadores que não permitem qualquer maldade, apenas
seguem os trâmites da vida e do amor.
E o amor é demasiado simples para ser explicado pela
filosofia. Assim começa, assim termina. Assim também pode recomeçar.
jef, janeiro 2018.
«O Amante de Um Dia» (L'amant d'un Jour) de Philippe Garrel.
Com Éric Caravaca, Esther Garrel, Louise Chevillotte. França, 2017, P/B, 76 min.
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