A Grande Ilusão é a própria realidade.
1888. Paris, Pigalle. O Moulin Rouge
vai abrir portas. A figura principal é a do seu mentor, Ziegler. Aqui, Danglard
(Jean Gabin).
A cidade prepara-se para a grande abertura com o ressurgimento do
“can-can”, o renovado French Cancan. E se o ministro inaugurara as fundações do
edifício vermelho com Marselhesa e tudo, acabando num expressivo arraial de
pancadaria, deixando Danglard entre a veterana Margot, a Bela Abadessa, (Maria
Félix) e a estreante Nini (Françoise Arnoul), ambas namoradas do empresário, será o
discurso do próprio Danglard sobre as mulheres que ama mas, principalmente,
sobre o espectáculo que idolatra, que vai reconciliar as duas mulheres e convencer Nini a ir até ao centro do palco, na apoteótica e comovente cena final.
Não existe filme mais realista sobre a arte mágica do espectáculo.
Não existe melhor filme musical, mais humanamente alegre,
sobre a etérea e fugaz fantasia do teatro.
Danglard não vê o início do espectáculo. Está longe do palco,
nos camarins, sentado num cadeirão, move um dos pés ao som do french can-can
que ele próprio ajudara a criar. A sua alegria está concentrada no que é fantástico e
irreal, está fora do palco. Está dentro do mundo!
Por que razão sofrer se a música e a dança estão ali à mão de
semear?
Que a humanidade se reconcilie!
Que o espectáculo recomece!
jef, setembro 2018
«French Can-Can» (French Cancan) de Jean Renoir. Com Jean Gabin,
Françoise Arnoul, Maria Félix, Gianni Esposito, Franco Pastorino, Valentine
Tessier, Philippe Clay, Jean-Robert Caussimon, Dora Doll, Lydia Johnson, Max
Dalban, Gaston Modot, Michel Piccoli, Michèle Philipe, Pierre Dlef, Edith Piaf,
Patachou. Argumento:
Jean Renoir sobre uma ideia de André-Paul Antoine. Cenários: Max Douy.
Guarda-roupa: Rosine Delamare. Música: Georges Van Parys. França, 1954, Cores,
102 min.
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