terça-feira, 25 de setembro de 2018

Sobre o filme «O Prazer» de Max Ophuls, 1952












Pode tecer-se as considerações mais intrincadas sobre o título do filme face ao seu conteúdo, desenvolver teorias, esgrimir argumentos, contudo, um facto é que ele é uma enorme homenagem à arte de fazer cinema, do ponto de vista da composição estética da câmara que gira e corre por personagens, espaços e janelas, da estrutura dramática dos diversos palcos quase isabelinos, mas principalmente da capacidade ética do género humano de poder sempre falhar e sempre poder reerguer-se.

Três histórias.
«Le Masque». Alguém que dança eternamente, até à exaustão, rodeado de um maravilhoso “palais de la dance”, onde as escadarias e o brilho, o movimento ininterrupto dos dançarinos e dos empregados de mesa termina numa solitária mansarda parisiense que aguarda talvez por um novo amanhecer.

«La Maison Téllier». O mais longo conto. Uma fábula sobre o prazer dos olhos e do corpo, sobre a líbido assumida como fundamento do ser. Principalmente, uma fortíssima elegia à alegria, ao amor “quase” fraternal e à comunhão emocional dos espíritos condensada naquele comovente choro colectivo na igreja da aldeia vigiado por anjos e névoas.

 «Le Modèle». Quem pinta o quê? O modelo ou o pintor? Impressionismo ou sedução? Expressionismo ou renúncia ou amor? O atelier, a floresta à beira do rio e o esconderijo, a janela aberta, são peças de arquitectura dramática fundamental. Quem olha? Quem escuta? Quem narra?

«Será preferível ser feliz a ser alegre.» A frase ressoa, nessa penumbra de triste resignação face ao tempo que não regressa. Será a voz do actor Jean Servais que vai narrando a ideia de Max Ophuls que vai secundando as palavras de Guy de Maupassant. A tela escura anuncia que alguém gosta da obscuridade, que a noite é sua amiga, a melhor hora para contar de histórias.

Um gesto de Arte!

jef, setembro 2018

«O Prazer» (le Plaisir) de Max Ophuls. Com Claude Dauphin, Jean Galland, Gaby Morlay, Madeleine Renaud, Danielle Darrieux, Jean Gabin, Pierre Brasseur, Mila Parely, Paulette Dubost, Ginette Leclerc, Daniel Gelin, Simone Simon, Jean Servais. Argumento Max Ophuls e Jacques Natanson, baseado em três contos de Guy de Maupassant (“Le Masque”, “La Maison Téllier” e “Le Modèle”). Fotografia: Christian Matras e Philippe Agostini. Música: Joe Hajos e Maurice Yvain baseada em temas de Jacques Offenbach. Produção: François Harispuru e Ben Barkay. França, 1952, P/B, 95 min.

Sem comentários:

Enviar um comentário