Quando me apercebi que a canção «Anthem» era o hino da
esperança desesperada que Leonard Cohen colocara a meio do álbum «The Future»,
editado pela Columbia, compreendi que a sua conterrânea Madeleine Peyroux
também tinha o direito de agitar a tradição do seu próprio mundo com a
ligeireza da pop, do funk, da soul, desse groovy quantas vezes apenas
ligeiramente ligeiro. Assim é a produção do disco «Anthem» às mãos do ultra
veterano Larry Klein. Mais pop, mais dançável, talvez mais profundo.
Em 1992, «The Future» foi contestado (ou estranhado) pelas
caixas de ritmos, pela batida fundo-de-bar, pelos coros femininos que
completavam os agudos e lançavam laivos delicodoces no paradigma da música «tão
séria» de Leonard Cohen. Contudo, o disco foi premiado, foi dançado, tornou-se
uma espécie de hino rejeitando o imobilismo de estilo, reformulando fórmulas,
dando conceito aos pré-conceitos.
A canção «Anthem» é uma homenagem ao futuro daquilo que sempre
pode desaparecer e devemos ter a consciência de ainda agarrar.
Também Madeleine Peyroux tornou-se no paradigma de, por mais
que faça, associar a carreira ao futuro de uma tradição musical da folk
ajazzada que sempre gosta de tocar as cordas do amorável.
Se estranharmos o disco «Anthem» por roçar o limite do
popular lírico é que a cantora tem todo o direito a explorar as fronteiras de um
mundo há muito conquistado. Desde «Dreamland» (1996).
«Anthem» significa mesmo “hino”.
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