segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Sobre o filme «A Herdade» de Tiago Guedes, 2019
















É um filme que amplia o modo de olhar o cinema comercial português. Não desdenha os bons princípios do nosso cinema. Uma fotografia (João Lança Morais) que plana sobre os olhares, as paisagens e os objectos, oferecendo-os lentamente à compreensão narrativa do espectador. A história está toda ali. A História de Portugal contemporânea também é assim dita pela troca de olhares entre João Fernandes (Albano Jerónimo) e Leonor (Sandra Faleiro), pelas relações sociais entre patrões, assalariados, políticos e militares. Quase silêncio, quase contenção política, quase hipocrisia. Claro que a palavra é concisa mas também é aguerrida, modelada e literária. Essa palavra é a do escritor Rui Cardoso Martins e nota-se bem. O bom cinema tem o mesmo princípio de palavra tida no teatro. A tensão revelada no diálogo entre João Fernandes e o inspector da pide (António Simão) é exemplo cabal. E depois existe o lado novelesco, quase de romance oitocentista, rara saga trágica de uma família, de uma micro-sociedade-macro, centrada em João Fernandes, fazendo o espectador condoer-se por uma personagem que talvez devesse rejeitar.
Mais um belo feito do cinema português.

jef, outubro 2019

«A Herdade» de Tiago Guedes. Com Albano Jerónimo, Sandra Faleiro, Miguel Borges, João Pedro Mamede, Rodrigo Tomás, Beatriz Brás, Diogo Dória, Ana Bustorff, Victoria Guerra, Teresa Madruga, Ana Vilela da Costa, João Vicente, Rodrigo Tomás, Cândido Ferreira, Dinis Gomes, Fernando Rodrigues, António Simão. Argumento: Rui Cardoso Martins, Tiago Guedes e Gilles Taurand. Fotografia: João Lança Morais. Produtor: Paulo Branco. Portugal, 2019, Cores, 166 min.

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