O mais interessante do filme é a
transfiguração que provoca no espectador começando este por não o levar muito a
sério, julgando que vai ver mais uma vez o Joker fazer muitas patifarias na
decadente, poluída, suja e infestada de ratos, Gotham City, anos de 1980,
e acaba por ser transportado até à angústia demente e demoníaca de Arthur Fleck /
Joker (Joaquin Phoenix), compreendendo-lhe as dores e o riso infeliz, desde o sonho
em assistir ao show televisivo, protagonizado pela magnífica figura criada
por Robert de Niro, até à explosão catártica da sua participação real nesse
show, deixando Joaquin Phoenix uma marca permanente na criatividade emocional e
dramática da célebre figura da DC Comics.
O actor extrapola a sua imagem e
o conceito que temos das suas "auto-elogiosas" interpretações anteriores, para atingir
um nível visual superior, de expressão fisionómica e expressão emocional, que
deixa o espectador numa espécie de desconforto latente, de solidariedade-rejeição,
desejando mesmo que chegue em breve o nosso justiceiro Batman e do seu acólito
Robin.
Para a transformação de super-herói de banda
desenhada em realidade urbana contemporânea bem que concorrem a música de Hildur
Guðnadóttir e a fotografia de cores, ora saturadas ora moribundas, de Lawrence
Sher.
jef, outubro 2019
Phillips, Todd «Joker». Com Joaquin
Phoenix, Robert De Niro, Zazie Beetz, Frances Conroy, Brett Cullen, Marc Maron,
Bill Camp, Shea Whigham, Glenn Fleshler, Douglas Hodge, Brian Tyree Henry. Argumento:
Todd Phillips e Scott Silver. Música: Hildur Guðnadóttir, Fotografia: Lawrence
Sher. EUA / Canadá, 2019, Cores, 122 min.
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