terça-feira, 15 de outubro de 2019

Sobre o filme «Sangue e Ouro» de Jafar Panahi, 2003




















O filme começa com a câmara parada numa espécie de câmara escura, uma joalharia, filmando o que se passa na rua e ouvindo o que se passa lá dentro. Um assalto. É ali que o filme também terminará.
Pelo meio conta a história de Houssein (Hossain Emadeddin) que distribui pizzas ao domicílio. E do seu grande amigo Ali (Kamyar Sheisi). A câmara não pára e persegue insistentemente a sua mota por Teerão dos riquíssimos e pela Teerão dos paupérrimos. A história baseia-se em factos reais, partilhada por Jafar Panahi com outro realizador, Abbas Kiarostami, que escreve o argumento. O actor Hossain Emadeddin, ele próprio, saiu da guerra entre o Irão e o Iraque, com distúrbios próximos da esquizofrenia, transportando sob e sobre a pele mais do que a solidão. Acima de tudo, a desagregação de uma sociedade vigiada e injusta e a consequente degradação individual. O solitário desespero ou solitária desistência. É penoso seguir-lhe o rasto, apetecendo vingar-lhe as penas, salvá-lo da dor de uma cidade que representa o sofrimento que, afinal, circula em todas as nossas cidades.

jef, outubro 2019

«Sangue e Ouro» (Talaye Sorkh / Crimson Gold) de Jafar Panahi. Com Hossain Emadeddin, Kamyar Sheisi, Azita Rayeji, Mehran Rajabi, Ramin Rastad, Pourang Nakhael, Ehsan Amani, Shahram Vaziri, Koveh Najmabadi, Saber Safael. Argumento: Abbas Kiarostami; Fotografia: Hossein Jafarian. Música: Peyman Yazdanian. Irão, 2003, Cores, 95 min.


Sem comentários:

Enviar um comentário