O filme começa com a câmara parada numa espécie de câmara escura, uma joalharia, filmando o que se passa na rua e ouvindo o que se passa lá dentro. Um assalto. É ali que o filme também terminará.
Pelo
meio conta a história de Houssein (Hossain Emadeddin) que distribui pizzas ao domicílio.
E do seu grande amigo Ali (Kamyar Sheisi). A câmara não pára e persegue insistentemente
a sua mota por Teerão dos riquíssimos e pela Teerão dos paupérrimos. A história
baseia-se em factos reais, partilhada por Jafar Panahi com outro realizador, Abbas
Kiarostami, que escreve o argumento. O actor Hossain Emadeddin, ele próprio,
saiu da guerra entre o Irão e o Iraque, com distúrbios próximos da
esquizofrenia, transportando sob e sobre a pele mais do que a solidão. Acima de tudo, a desagregação de uma sociedade vigiada e injusta e a consequente
degradação individual. O solitário desespero ou solitária desistência. É penoso seguir-lhe o rasto,
apetecendo vingar-lhe as penas, salvá-lo da dor de uma cidade que representa o sofrimento
que, afinal, circula em todas as nossas cidades.
jef,
outubro 2019
«Sangue
e Ouro» (Talaye Sorkh / Crimson Gold) de Jafar Panahi. Com Hossain Emadeddin,
Kamyar Sheisi, Azita Rayeji, Mehran Rajabi, Ramin
Rastad, Pourang Nakhael, Ehsan Amani, Shahram Vaziri,
Koveh Najmabadi, Saber Safael. Argumento: Abbas Kiarostami; Fotografia: Hossein
Jafarian. Música: Peyman Yazdanian. Irão, 2003, Cores, 95 min.
Sem comentários:
Enviar um comentário