Um
daqueles romances nostálgicos, ternos, humanos e belos, que nos lembram que a
América (ainda) é um enorme país feito de pessoas, aventuras e
literatura. Assim começa:
«Nos
velhos tempos, Venice, Califórnia, tinha muito que se pudesse recomendar
àqueles que gostavam de se sentir tristes.»
Numa
noite chuvosa, um escritor de novelas policiais (e depois, detective) entra num
eléctrico e encontra, aterrorizado, alguém que o alerta para a tragédia. Pouco
depois, solta um grito ao encontrar um corpo submerso nas águas oceânicas, encarcerado
numa jaula de leões. Em tempos, um circo tinha sido atirado à água. Agora, os grandes
monstros mecânicos da extracção petrolífera substituem a antiga montanha-russa,
o parque de diversões, o velho cinema. Dali a nada, o mundo das divas dos
filmes mudos e das cantoras de ópera desaparecerá. É preciso denunciar o crime,
porque outros lhe seguirão. O inspector da polícia e detective (mais tarde
também ele escritor), Elmo Crumley, que vive num arboreto de plantas exóticas
com autofalantes que rugem sons da savana, não está propriamente convencido. É
preciso agir (e proteger)!
Ficamos
a pensar em Billy Wilder («O Crepúsculo dos Deuses», 1950), David Lynch («Uma História
Simples», 1999), Tom Waits («Night On Earth», 1991), Edward Hopper («Nighthawks»,
1942)…
Um dos
mais belos retratos sobre a solidão e a solidariedade com a velhice. Um acto de
amor ao tempo cristalizado e à literatura policial.
jef, outubro
2019
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