quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Sobre o livro «A Morte É Um Acto» de Ray Bradbury. Cavalo de Ferro, 2019 (1951). Tradução de Maria João Freire de Andrade.
















Um daqueles romances nostálgicos, ternos, humanos e belos, que nos lembram que a América (ainda) é um enorme país feito de pessoas, aventuras e literatura. Assim começa:

«Nos velhos tempos, Venice, Califórnia, tinha muito que se pudesse recomendar àqueles que gostavam de se sentir tristes.»

Numa noite chuvosa, um escritor de novelas policiais (e depois, detective) entra num eléctrico e encontra, aterrorizado, alguém que o alerta para a tragédia. Pouco depois, solta um grito ao encontrar um corpo submerso nas águas oceânicas, encarcerado numa jaula de leões. Em tempos, um circo tinha sido atirado à água. Agora, os grandes monstros mecânicos da extracção petrolífera substituem a antiga montanha-russa, o parque de diversões, o velho cinema. Dali a nada, o mundo das divas dos filmes mudos e das cantoras de ópera desaparecerá. É preciso denunciar o crime, porque outros lhe seguirão. O inspector da polícia e detective (mais tarde também ele escritor), Elmo Crumley, que vive num arboreto de plantas exóticas com autofalantes que rugem sons da savana, não está propriamente convencido. É preciso agir (e proteger)!

Ficamos a pensar em Billy Wilder («O Crepúsculo dos Deuses», 1950), David Lynch («Uma História Simples», 1999), Tom Waits («Night On Earth», 1991), Edward Hopper («Nighthawks», 1942)…

Um dos mais belos retratos sobre a solidão e a solidariedade com a velhice. Um acto de amor ao tempo cristalizado e à literatura policial.

jef, outubro 2019


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