terça-feira, 29 de outubro de 2019

Sobre o filme «O Traidor» de Marco Bellocchio, 2019
















O mais interessante neste filme de Marco Bellochio, especialista na arte italiana do submundo, é o facto de ser uma novela sangrenta, mas de certo modo divertida, sobre um mundo horrível: as últimas décadas do mafioso Tommaso Buscetta (Pierfrancesco Favino) quando este, querendo retomar a velha honra da Cosa Nostra siciliana, resolve voltar a Itália para denunciar centenas de “parentes” assassinos desvirtuados pela mais recente ganância vinda da droga.
Contudo, não o podemos comparar às ficcionais novelas sangrentas de Tarantino. Este molda a seu bel-prazer a realidade para que a intriga ofereça um antidoto à memória histórica mais sofrida. Em «O Traidor» passa-se o contrário. Estamos perante toda a realidade das mortes e dos diversos interrogatórios e julgamentos em flashbacks mais ou menos contundente e acelerados servidos por uma banda sonora operática.
Contudo, em modo quase etnográfico, a Itália do sul está lá toda e a personagem interpretada por Pierfrancesco Favino vai ficando cada vez mais densa, cada vez mais determinada, no contraponto (ou acareação emocional e judiciária) com as personagens mais fortes e fundamentais do filme – o juiz e amigo Giovanni Falcone (Fausto Russo Alesi), o amigo e mafioso Salvatore Cancemi (Luigi Lo Cascio) e os parentes e opositores Pippo Calò (Fabrizio Ferracane) e Totò Riina (Nicola Calì).
Eles são mesmo o melhor de um filme. Um filme que, por outro lado, se perde nessa mesma dispersão emocional, por vezes não sabendo para que lado deve atirar.

jef, outubro 2019

«O Traidor» (Il Traditore) de Marco Bellocchio. Com Pierfrancesco Favino, Luigi Lo Cascio, Fausto Russo Alesi, Maria Fernanda Cândido, Luigi Lo Cascio, Fabrizio Ferracane, Nicola Calì, Bebo Storti. Alemanha / Itália / França / Brasil, 2019, Cores, 145 min.

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