terça-feira, 1 de junho de 2021

Rocha dúctil

 

Aconchego-me ao Grande Canyon,

entre fundas perspectivas e doces poeiras aromáticas.

Aí, permaneço.

E adormeço nessa penumbra ocidental.

Na penugem do amor,

na lucidez translúcida do fluído,

no instante fortuito da saliva,

no corpo solvente do calor,

num certo reverso da experiência

em que me desfaço e me cuido,

sem saber se, algum dia, me deixarão regressar.

Mas, sim, um dia regressarei

de sono tão invulgar,

do sol sem zénite,

desse líquido porvir.

Agora, estou certo, vou acordar

encadeado pelo crepúsculo

que me fechará os olhos,

como fazem as rochas dúcteis

ao levantarem-se do pó duro da agonia.

Nesse momento, estarei pronto.

E voltarei a partir.

 

jef, junho 2021

 

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