De
certo modo, parecem longínquos os tempos russos de «O Tio Vânia» (1971) ou
«Siberíada» (1979). Ainda mais, os anos americanos de 1985 («Comboio em Fuga»),
1987 («Gente Estranha») ou 1989 («Os Amantes de Maria»). Um certo poder que
emanava, misterioso e ao mesmo tempo exuberante, das personagens em conflito
com o seu tempo e este em contraciclo com o seu meio familiar. Um jeito
emprestado de Tchekov.
Neste
filme permanece a sombra da previsibilidade que não consegue ser afastada pela poderosa
mas ríspida interpretação de Yuliya Vysotskaya, a mãe dilacerada no interior de
um cenário de conflito bélico urbano. No início de junho de 1962, Lyudmila, membro
do comité municipal de Novocherkassk, comunista leal ao espírito de Estaline e
com sérias dúvidas quanto à burocrática visão estatal de Kruchev, vê-se no meio
da repressão de uma revolta operária que opõe o exército soviético ao método brutal
repressivo do KGB.
Contudo,
a absolutamente fantástica fotografia a preto e branco de Andrei Naidenov,
aliada a uma circulação da narrativa de uma beleza teatral pelos cenários
interiores das casas, ou através da cidade e dos seus arredores, deixam no
espectador a certeza de que a estética dramática e a dimensão intimista das
personagens que deu a fama ao seu cinema não foram ainda esquecidas por Andrei
Konchalovsky.
jef,
junho 2021
«Caros
Camaradas!» (Dorogie Tovarishchi! / Dear Comrades!) de Andrei Konchalovsky. Com
Yuliya
Vysotskaya, Andrei Gusev, Vladislav Komarov, Yuliya Burova, Sergei Erlish, Alexander
Maskelyne. Argumento: Andrei Konchalovsky e Elena Kiseleva. Fotografia: Andrei Naidenov. Produção: Andrei Konchalovsky e Alisher Usmanov. Rússia, 2020, P/B,
121 min.
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