Diz
a IMDb que Joseph Losey estudou com Bertold Brecht. Na realidade, existe
qualquer coisa de profundamente humano na dramaturgia do realizador (mesmo quando
Harod Pinter não intervém). Talvez mesmo fracturante, amoral, onde as
personagens são tudo e, no fundo, pouco são no justo momento em que a realidade
os encosta à parede (ou às grades da prisão). Tal como nos heróis de Brecht.
Johnny Bannion (Stanley Baker) é rei e senhor numa prisão onde chefia prisioneiros e controla guardas até ao instante em que a liberdade é imposta e a prisão de um mundo de crime, subserviente a códigos bem mais específicos e inatacáveis, se sobrepõe à sua própria dominância. Ele expulsa todos da festa que se realiza na sua própria casa, incluindo Maggie (Jill Bennett) a anterior namorada que chega para exigir tributo, e encontra deitada e escondida na sua cama Suzanne, uma extraordinária Margit Saad, a exigir uma devoção a que ele ficará devedor.
O
golpe na casa de apostas das corridas de cavalo é bem-sucedido, o dinheiro é
escondido mas ele tem de voltar à prisão. O estigma dominador do seu mundo
parece agora desfazer-se. A autoridade que antes impunha é cercada pela
desconfiança, pela revolta, pelo desprezo, tanto no interior da prisão como do
outro lado. A solidão aproxima-se, cerca-o. Resta-lhe fugir até à neve, apesar
de ferido, e calar o segredo. Rezará nos braços de quem lhe exige a revelação
do lugar perdido e a câmara afasta-se do corpo estendido no campo gelado. Não
existe símbolo mais poderoso e redentor do existencialismo humano. O silêncio contra
a fúria. Nada mais resta aos heróis caídos.
De
Visconti a Renoir, de Ford a Kubrick, também a Joseph Losey – o cinema completo!
jef,
junho 2021
«Prisão Maior» (The Criminal) de Joseph Losey.
Com Stanley Baker, Sam Wanamaker, Grégoire Aslan, Margit Saad, Jill Bennett,
Rupert Davies, Laurence Naismith, John Van Eyssen, Noel Willman, Kenneth
Warren, Patrick Magee, Kenneth Cope, Patrick Wymark, Paul Stassino, Tom Bell,
Neil McCarthy, Nigel Green, Tom Gerard, Edward Judd. Argumento: Alun Owen.
Fotografia: Robert Krasker. Música: John Dankworth. Produção: Nat Cohen.
Grã-Bretanha, 1960, P/B, 97 min.
Sem comentários:
Enviar um comentário