segunda-feira, 21 de junho de 2021

Sobre o livro «Fogo» de Luís Campos, Colecção Bolsonoite 1, Europress 1983. Capa de Tomás Pereira.



 








A cartomante Madame Sílvia, ou Berta, esclarece Duque, o jornalista, que anda a investigar um incêndio urbano de características muito particulares e do qual fora testemunha e quase vítima fatal. Sim, ela própria tinha andado metida até ao pescoço nesse célebre caso dos finais dos anos sessenta. Alugava quartos. Grandes senhores das finanças e da política metidos com crianças em sessões de sexo louco. Foi nessa altura que conhecera as duas meninas gémeas: Sílvia e Ivone.

Duque domina as reviravoltas da noite de Lisboa. Certa boite é uma espécie de divã ou cela de recolhimento. Mas também é lá que tudo pode acontecer. Conhece Estela que lhe pede um cigarro e uma bebida e conta que a colega Anabela já se orientou com um tipo de bigode, alcoolizado e de carteira recheada. Duque enxota-a e eles tornam-se amigos. Nessa noite, a do incêndio, conhecerá a sua fogosa esposa, Patrícia. Dias depois, chegará à fala com Ângela, que vive faustosamente no Restelo. Depois, com Marília, a tal sobrinha do senhor Óscar.

Duque tem um jornal. O Jornal do Crime. Bebe muito, fuma ainda mais, mas tudo passa após umas horas de ressaca e enlevo feminino.

Duque só não é o Philip Marlowe, pois Raymond Chandler talvez não conhecesse a zoologia de Lisboa, do Elefante Branco à Cova da Onça, nem conseguiria descrever com tanto talento e realismo sarcásticos os taxistas lisboetas.

O conhecido escritor de policiais, Luís Campos, era pianista e pintor. Em 1982, editou «A Rapariga de Tânger» e «Gata em Noite de Chuva». Nessa altura chamava-se Frank Gold. Depois, «O Estripador de Lisboa» (1984) deu brado. As descrições dos crimes sobrepunham-se à realidade acontecida a três prostitutas no início dos anos noventa, na Póvoa de Santo Adrião, arredores de Lisboa. Por isso chegou a ser investigado.

Luís Campos conhece todos os truques de um bom policial e sabe manejar a intriga com génio, dissimulando-lhe na avidez da narrativa coincidências e incoerências.

Luís Campos faleceu no início do milénio.

Luís Campos foi meu professor de química no Instituto Superior de Agronomia.


jef, junho 2021

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