segunda-feira, 28 de junho de 2021

Sobre o livro «O Caminho da Serpente» de Torgny Lindgren (1982), Quetzal, Colecção Graffiti, 1990. Tradução de Maria Carlos Loureiro e Marie-Louise Petersson.











Segunda metade do século XIX. Na Suécia, no vale de Vindelälven, a povoação de Kullmyrliden sofre um extraordinário deslizamento de terras. Com ele desaparece a pequena família de Johan Johansson mas também o seu algoz, o soberbo, déspota e violador comerciante Karl Orsa, filho do burguês especulador Ol Karlsa, um certo camponês que se tornara almocreve e acabou por arrebanhar as terras ao avô de Johan.

Tudo segundo a boa palavra de Deus.

Johan agora está à beira do precipício que Deus lhe criou a seus pés. E pergunta-lhe, ou melhor, dialoga com ele. Johan, que conhece toda a história dos inocentes e usurpados, vai-lha contar.

Deus permanecerá em silêncio.

É assim a história que o leitor seguirá com a avidez com que escutaria uma parábola bíblica sobre a ofensa aos oprimidos. Ouvindo o órgão tocado pela mãe de Johan e o violino tocado pela irmã Eva.

Deus permanecerá em silêncio.

“Desconhecido é o caminho da serpente sobre a pedra. Incompreensível o do homem até à mulher.” Conta, ainda, debruçado sobre o grande poço negro.

Torgny Lindgren cria um fabuloso (de fábula, mesmo!) hino neo-realista, muito puro, muito simples, muito belo, sobre o sofrimento dos povos do Norte e a sua resistência. Imaginativos povos nascidos da lonjura, da pobreza e da neve.


jef, junho 2021

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