Dizem pelas linhas digitais da internet que Branquinho
da Fonseca fundou em 1927, com José Régio e João Gaspar Simões, a revista
Presença, e que a pedido de Azeredo Perdigão iniciou em 1958 e dirigiu o
Serviço de Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian. Contudo,
não é preciso saber de tal currículo para ler «O Barão» e entender que estamos
perante um texto único e inclassificável.
A chegada do inspector escolar a um lugar ermo e
nocturno, no meio de Portugal (talvez mesmo olugar sombrio seja mesmo
Portugal inteiro), dizendo nas primeiras palavras: “Não gosto de viajar.”, é de
uma modernidade sem tempo nem qualificação. Parece uma personagem
existencialista saída da nouvelle vague francesa,
dessas que se entendiam, resmungam mas deixam que a vida lhes cumpra a predestinação.
Ele só quer ficar parado as férias inteiras. Porém, ali chegado, é convidado-comandado
a ficar no palacete quase assombrado de um Barão que não come mas bebe vinho
tinto e champanhe, e muito. E amou uma única mulher e usa de uma liberdade
total e angustiada, feita de soberba deprimida, de ânsia fantasmagórica,
quase tétrica. Idalina, a criada, sustém-lhe a vida, as memórias amargas e o casarão.
Sem dúvida um texto singular, inexplicado, inquietante, cinematográfico,
que deixa a capa deste pequeno livro à beira da ignomínia mas logo, mal o
comecei a ler, apelou à boa memória de um filme de Edgar Pêra (2011) com
o malogrado actor Nuno Melo por Barão.
Sem deixar a sombra da morte e de certo modo a da
fantasmagoria onírica, segue-se o conto «Mãos Frias» a lembrar os contos de
Maria Ondina Braga ou Maria Judite de Carvalho e «O Involuntário», a história
de outro personagem, Filipe de Maio ou Filipe da Maia, que foge do Outono,
diletante e entediado, seguindo apenas o acaso que o destino lhe reserva.
Porém, o acaso também aqui não se explica mas, ainda assim, aprisiona.
jef, junho 2021
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