A
longa cena final, esse percurso ansioso através das searas e das oliveiras ao
som de um andamento barroco, em que Hossein, de balde e termos de chá na mão,
segue Tahereh, de vaso de sardinheiras à ilharga, aguardando que esta dê um
sinal da aceitação do seu amor, é de um desses momentos à Kiarostami, um
instante magnânimo, que resume a justiça, a liberdade, a necessidade, a dúvida,
lançadas pelo Cinema maior.
Ela
orgulhosa, ele submisso. Ou, pelo contrário, ele impositivo, ela submetida a
dogmas familiares e sociais. Seguem os dois, levados também pela rejeição do
passado e da dor, trágica e pobre, que o terramoto de 1990 lançou sobre o Irão.
Estão na região de Koker, a 350 km de Teerão, e o seu desejo de futuro é
imenso. Não querem ser analfabetos. Querem estudar mesmo em tendas. Querem ter
uma casa própria mesmo periclitante. Querem vestir-se de outro modo. Querem amar,
apesar dos mortos e da derrocada, apesar da lei.
O
Actor (Mohamad Ali Keshavarz), aqui realizador benévolo e paciente, anuncia ao
espectador que estão a escolher a actriz para interpretar uma jovem que se
casou um dia após o terramoto. Durante o intervalo das filmagens, rodeados de
miúdos, pega num livro e faz-lhes perguntas que sairão no exame. Entre risos e
realidade. E vasos de sardinheiras.
A
Srª. Shiva (Zarifeh Shiva), anotadora, motorista, produtora, irrita-se porque Tahereh
chega tarde e não quer usar um vestido tradicional de camponesa, também porque
Hossein
se recusa a ser pedreiro, a sua profissão anterior. No entanto, todos acatam,
todos cumprem, todos guardam uma ponta de ressentimento. Todos guardam uma
ponta de esperança. O futuro não é assegurado mas poderá dissolver um pouco a
miséria dos antepassados.
Abbas
Kiarostami, em «Através das Oliveiras», faz o que o modernismo de Visconti e
Rosselini fez à realidade filmada devolvendo ao espectador a incerteza com que
o grande teatro conforta (ou confronta) a vida. Ainda lhe coloca o livre
arbítrio da interpretação de quem a contempla. Longínquo, entre as oliveiras,
vemos Tahereh virar-se momentaneamente para Hossein, logo ele desata a correr
em sentido contrário. Pode o Amor ter convencido Tahereh. Pode o desespero ter
vencido Hossein.
Quem tem o poder de decidir?
jef,
outubro 2017
Ótimo filme! Palavras muito açucaradas Houssein diz à Tahereh... Ao meu sentir, no final, com o seu amor, Houssein suplantou a resistência da jovem; a trilha sonora, que é muito alegre, indica a sua vitória. Além disso, se fosse rejeitado, o que sucederia ao rapaz seria a languidez; em oposição, o que ele faz é correr... e tão rápido, com tanta disposição, que até caí, como se não pudesse conter a sua empolgação.
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