Tenho
de ser justo, «Blade Runner 2049» não é um mau filme, apenas tenho de esquecer que revi «Blade
Runner: Perigo Iminente» de Ridley Scott (1982).
E o problema maior é que eu tenho esse filme bem vincado na memória. E o presente (futuro)
deste segundo filme não merece o romantismo desfasado e anacrónico, belamente
desfeado, para sempre marcado pela estilizada «replicant» Rachael (Sean
Young) que devolve a vida humana ao humano «blade runner» Rick
Deckard (Harrison Ford) quando se apaixonam e, por erro de fabrico, perde o
prazo de validade ficando a desconhecer quando morrerá. Tal como os humanos.
Porque
Ryan Gosling, o mais recente canastrão do cinema americano, não consegue levar
o seu blade runner a nenhum confronto
emocional com o espectador. Harrison Ford, que também nunca terá sido a nata do
expressionismo, acabou por nos dar esse bruto contraponto com o inexplicável mau
Roy Batty (Rutger Hauer), oferecendo à solidão desagregada de Los Angeles, suja
e chuvosa, um desespero sem causa. Mas isso
era em 1982, com Ridley Scott, ao som de Vangelis. Agora o som é uma colagem
mais barata de Benjamin Wallfisch e Hans Zimmer, e os cenários são todos
plastificados pela nova tecnologia. Brilhantemente sujos, assepticamente húmidos.
Valha-nos
as cenas no decrépito e amarelento casino, a morada de Rick Deckard, uma
espécie de cenário construído por Wes Anderson.
Resta-nos
também a interpretação de Robin Wright.
Porque
terá a ficção científica no cinema de hoje de estar subjugada a estes efeitos
especiais tão lisos e puros, que impedem os filmes de saltar por
cima da moral de histórias à Walt Disney?
Por
isso, continuo a defender a ficção científica de «Uma História de Amor» de Spike Jonze (2013) com
Joaquin Phoenix e a voz de Scarlett Johansson.
Mas,
no final, repito para ser justo, até estive bastante entretido
durante os 163 minutos de «Blade Runner 2049».
jef,
outubro 2017
«Blade
Runner 2049» de Denis Villeneuve. Com Harrison Ford, Ryan Gosling, Ana de
Armas, Jared Leto, Mackenzie Davis, Robin Wright, Dave Bautista, Sylvia Hoeks,
Carla Juri, Barkhad Abdi, David Dastmalchian, Hiam Abbass. Música: Benjamin
Wallfisch e Hans Zimmer. EUA /
Grã-Bretanha / Canadá, 2017, Cores, 163 min.
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