quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Sobre o livro «Casa na Duna» de Carlos de Oliveira, Assírio & Alvim 2004 (1943)

















Existe em Carlos de Oliveira o modo da perfeição que apetece reler e coleccionar.

Escrevia pouco, relia mil vezes os textos, retirando gralhas, emendando alguma obtusidade involuntária. Cuidava de obter a melhor paginação para as suas palavras que deviam ser cobertas pelas capas mais sóbrias, mais determinantes, diria, mais objectivas perante o seu querer estético.

Carlos de Oliveira angustiava-se pelo que não pôde dialogar e publicar no tempo do fascismo. Carlos de Oliveira lutava pelo estatuto da palavra certa.
Carlos de Oliveira era um esteta para o futuro, revoltado com o passado.

O seu espólio foi doado ao Museu do Neo-Realismo para o preservar, estudar e divulgar. A exposição, que até ao dia 29 de Outubro de 2017 ali se mostra, tem a capacidade de, em simultâneo, evidenciar o lado perfeccionista, de coleccionador e de lutador do poeta.

As edições realizadas do romance «Casa na Duna» são de um apuro reverente. A última realizada pela editora Assírio & Alvim, respeita o dogma e acrescenta na capa o pormenor de um desenho de sua autoria. Também vigoroso e singelo.

«Casa na Duna», na pureza sofrida de todas as personagens, pelos motes paisagísticos levados na poética dos pinhais arenosos da gândara, pela sequência dos curtos capítulos que cruzam o tempo e o espaço trazendo ao leitor a cadência certa de um épico clássico, pelo desfecho dramático que o aproxima da ópera romântica, é um livro que nos deixa o modo da leitura e a impaciência pelo acto próximo de perfeição do poeta. 

Para reler e coleccionar a nova idade dos velhos livros.

jef, outubro 2017

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