Existe
em Carlos de Oliveira o modo da perfeição que apetece reler e coleccionar.
Escrevia
pouco, relia mil vezes os textos, retirando gralhas, emendando alguma obtusidade
involuntária. Cuidava de obter a melhor paginação para as suas palavras que deviam ser cobertas pelas capas mais sóbrias, mais determinantes, diria, mais objectivas
perante o seu querer estético.
Carlos
de Oliveira angustiava-se pelo que não pôde dialogar e publicar no tempo do
fascismo. Carlos de Oliveira lutava pelo estatuto da palavra certa.
Carlos
de Oliveira era um esteta para o futuro, revoltado com o passado.
O
seu espólio foi doado ao Museu do Neo-Realismo para o preservar, estudar e
divulgar. A exposição, que até ao dia 29 de Outubro de 2017 ali se mostra, tem a capacidade
de, em simultâneo, evidenciar o lado perfeccionista, de coleccionador e de lutador do poeta.
As edições realizadas do romance «Casa na Duna» são de um apuro
reverente. A última realizada pela editora Assírio & Alvim, respeita o
dogma e acrescenta na capa o pormenor de um desenho de sua autoria. Também vigoroso
e singelo.
«Casa
na Duna», na pureza sofrida de todas as personagens, pelos motes paisagísticos
levados na poética dos pinhais arenosos da gândara, pela sequência dos curtos
capítulos que cruzam o tempo e o espaço trazendo ao leitor a cadência certa de
um épico clássico, pelo desfecho dramático que o aproxima da ópera romântica, é
um livro que nos deixa o modo da leitura e a impaciência pelo acto próximo de
perfeição do poeta.
Para reler
e coleccionar a nova idade dos velhos livros.
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