quinta-feira, 12 de julho de 2018

Sobre o filme «As FIlhas de Abril» de Michel Franco, 2017














Existe qualquer coisa de incompreensível neste filme. Melhor, inexplicável.

O filme parece começar por uma história a lançar raízes na difícil maternidade quase infantil em terras do México, criando a expectativa de irmos assistir a um desses filmes-denúncia ao jeito dos  irmãos Dardenne, de Brillante Mendoza ou Stéphane Brizé. Aqueles filmes que precisamos de ver para suster a respiração e compreender como a economia anti-social transtorna o bem-estar no mundo.

Uma mãe chega Puerto Vallarta para ajudar uma quase criança de 17 anos, que vive com a meia-irmã, a ter a sua neta. Rica, amiga apesar de ausente, voluntariosa e estratégica, vai ajudar a serenar um quadro que poderia ser desastroso. Contudo…

Acabamos por assistir a uma série de peripécias rocambolescas e manhosas arquitectadas por uma Rainha Má que vai espalhando maçãs envenenadas por todos os penosos 103 minutos de exibição.

Claro que a realização é rápida e eficaz. O argumento cheio de reviravoltas. As actrizes cumprem muito bem a tarefa para que foram contratadas, principalmente as bebés que fazem de Karen, a pobre nascitura. O espectador fica em pulgas com uma criança sempre a chorar desesperada… mas e depois?

Ficamos sem dogma ou conclusão, alerta ou moral, acção política, cultural ou social. Ficamos sem a beleza de códigos. E o cinema faz-se de códigos, já dizia Deleuze, e uma telenovela não tem códigos, não tem beleza.

Uma telenovela não é cinema!

jef, julho 2018

«As Filhas de Abril» (Las Hijas de Abril) de Michel Franco. Com Emma Suarez, Ana Valéria Becerril, Enrique Arrizon, Joanna Larequi. México / Espanha, 2017, Cores, 103 min.

Sem comentários:

Enviar um comentário