Provavelmente, a única coisa que una este filme a uma certa perspectiva «clássica» do cinema de Mizoguchi ou Ozu ou Kurosawa, seja o sentido poético do título. Ou talvez não. A crueldade com que o tempo vai negando a juventude e a sua vocação para o amor é o tema de todos eles.
A crueldade é, assim, muitas vezes citada pela jovem Mako (Miyuki
Kuwanu) após apaixonar-se por Kyoshi (Yusuke Kawazu), jovem universitário que
toma a rebeldia dos actos por suposta independência afectiva. Mako atrai velhos
endinheirados pedindo-lhes boleia, acabando estes por ser assaltados por Kyoshi.
Mako e Kyoshi vivem na margem, desejam a margem, passam ao
lado da família, da cidade, da política que se manifesta na rua. A sua pressa
está no centro. E o centro desta segunda longa-metragem do realizador está,
como sempre esteve depois, na proximidade do corpo, dos lábios, do suor,
das lágrimas.
O ecrã é enorme, os olhos dos espectadores aproximam-se da
tragédia que se apresenta veloz, urgente, quebrada, sem se preocupar muito com
a narrativa cronológica. As cores são feéricas, tal como a paixão que faz
aproximar o hiato amoroso da incompreensão, negando-a, tal como na ópera
romântica mas com grandes sublinhados jazzísticos, cores feéricas, néons,
planos estilizados sobre cigarros, telefones, tecidos. Uma maçã é devorada
vorazmente mas em longuíssimo plano, tornando-se o epitáfio que anuncia a morte.
Nouvelle Vague. Noberu Bagu.
Vou-me lembrando de filmes que obrigaram o mundo a transformar-se: «West Side Story / Amor sem Barreiras» Robert Wise / Jerome Robbins, 1961; «Fúria
de Viver» Nicholas Ray, 1955; «Esplendor na Relva» Elia Kazan, 1961; «Gata em Telhado
de Zinco Quente» Richard Brooks, 1958; «Pedro, o Louco» Jean-Luc Godard, 1965; «Rumble
Fish / Juventude Inquieta» Francis Ford Coppola, 1984.
Um filme a rever de olhos e ouvidos bem abertos. Nagisa
Oshima será sempre um poeta assumido do corpo e da luz.
«Contos Cruéis da Juventude» (Seishun zankoku monogatari) de Nagisa Oshima. Com Miyuki Kuwano, Yûsuke Kawazu, Yoshiko Kuga, Fumio Watanabe. Música: Riichirô Manabe. Japão, 1960, Cores, 96 min.
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