terça-feira, 24 de julho de 2018

Sobre o filme «À Distância» de Lorenzo Vigas, 2015













O melhor do filme é o cenário real, conclusivo, opressor, fechado sobre os personagens. A casa de família. Onde Armando (Alfredo Castro) vive só, rodeado de objectos e de poeira e da cor desmaiada de uma família desaparecida. É aí que recebe rapazes jovens a quem paga para se despirem para, depois, se masturbar à distância, sem lhes tocar. Uma atracção pela distância irreprimível, impulsiva, para cumprir a sua difícil sexualidade. Até encontrar Elder (Luis Silva), bate-chapas numa oficina de automóveis de quarta categoria em Caracas, Venezuela. A casa de Elder sem chave, a oficina, as ruas onde o grupo de adolescentes delinquentes se juntam, são de um realismo ficcional que merece toda a nossa atenção, quase devoção. A beleza da fealdade!

As ruas de Caracas são de uma opressão desmesurada perante a inconsequência dos personagens, acompanhando tão bem o silêncio distante de Armando ou a agitação meio-estéril de Elder. Os actores Alfredo Castro e Luis Silva são magníficos, o tempo de acção inflexível.

O pior do filme é o tentar impor uma conclusão-explicação para tudo, constrangedora, restritiva, dizendo que Armando é assim pois tivera um pai opressor que a tudo o terá obrigado, dizendo que Elder é assim pois é filho das ervas, espécie de delinquente, filho da ingratidão e de uma sociedade venezuelana em cacos… Suspeito que tal tradição justificativa, deveras novelesca, tenha algo a ver com o produtor Michel Franco («As Filhas de Abril», 2017).

Nem a sexualidade, nem a atracção amorosa, nem a delinquência, nem a sociedade, podem ser reduzidas a estereótipos de uma psicologia de trazer por casa!

jef, julho 2018

«À Distância» (Desde Allá) de Lorenzo Vigas. Alfredo Castro, Luis Silva, Jericó Montilla, Catherina Cardozo, Jorge Luis Bosque. Produção: Michel Franco. México / Venezuela, 2015, Cores, 93 min.

Sem comentários:

Enviar um comentário