O melhor do filme é o cenário real, conclusivo, opressor,
fechado sobre os personagens. A casa de família. Onde Armando (Alfredo Castro)
vive só, rodeado de objectos e de poeira e da cor desmaiada de uma família
desaparecida. É aí que recebe rapazes jovens a quem paga para se despirem para,
depois, se masturbar à distância, sem lhes tocar. Uma atracção pela distância
irreprimível, impulsiva, para cumprir a sua difícil sexualidade. Até encontrar
Elder (Luis Silva), bate-chapas numa oficina de automóveis de quarta categoria
em Caracas, Venezuela. A casa de Elder sem chave, a oficina, as ruas onde o
grupo de adolescentes delinquentes se juntam, são de um realismo ficcional que
merece toda a nossa atenção, quase devoção. A beleza da fealdade!
As ruas de Caracas são de uma opressão desmesurada perante a inconsequência
dos personagens, acompanhando tão bem o silêncio distante de Armando ou a
agitação meio-estéril de Elder. Os actores Alfredo Castro e Luis Silva são magníficos,
o tempo de acção inflexível.
O pior do filme é o tentar impor uma conclusão-explicação
para tudo, constrangedora, restritiva, dizendo que Armando é assim pois tivera
um pai opressor que a tudo o terá obrigado, dizendo que Elder é assim pois é
filho das ervas, espécie de delinquente, filho da ingratidão e de uma sociedade
venezuelana em cacos… Suspeito que tal tradição justificativa, deveras
novelesca, tenha algo a ver com o produtor Michel Franco («As Filhas de Abril»,
2017).
Nem a sexualidade, nem a atracção amorosa, nem a
delinquência, nem a sociedade, podem ser reduzidas a estereótipos de uma
psicologia de trazer por casa!
jef, julho 2018
Sem comentários:
Enviar um comentário