Gus Van Sant tem um fito, uma política, um tema. E,
segundo esse propósito, já fez filmes como «Elephant» (2003), «Paranoid Park»
(2007) ou «Milk» (2008). Contudo, o seu último parece colocá-lo na posição de
cumprir agenda e suprir a lacuna no calendário que Hollywood exige,
dramatizando a história real de alguém que a sociedade americana desconsidera muito
considerando depois. Drama infalível. John Callahan (1951-2010), um destravado
e criativo personagem que nunca abandonou o álcool, a velocidade sobre rodas e
a atitude provocatória, mesmo quando acabou numa cadeira de rodas a fazer
cartoons sobre os assuntos mais «fracturantes» do dia-a-dia da América.
Pouco mais se aprende neste melodrama.
Joaquin Phoenix (John Callahan) é óptimo no seu eterno papel
do agressivo-mimado, chorão-despudorado, deficiente-rejeitado, ficando em
segundo plano quando exposto à influência de Donnie (um extraordinário Jonah
Hill), o seu guia espiritual, sensível, rico e homossexual. Donnie ofusca Callahan
porque é o personagem que mais interessa ao realizador.
Nem a bela Annu (Rooney Mara) consegue retirar o lado mais sentimental,
para não dizer piegas do argumento.
Nem os belos cartoons têm tempo de se mostrar à compreensão
gráfica do espectador.
Nem os decores e guarda-roupa são devidamente realçados. Nem
a música do mestre Danny Elfman brilha.
Apenas esse género de clivagem sincopada de planos em
flash-back nos levam ao longo da história desse verdadeiro resistente da ironia
alcoólica que foi John Callahan. Um bom telefilme de domingo.
jef, junho 2018
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