Neste filme existe qualquer coisa de incoerentemente maravilhoso!
Não se entende muito bem porque foi feito, para que foi feito, para quem foi
feito. Temos pressa em seguir a câmara que vai à frente desaustinada. De início,
não percebemos bem a conversa dos camponeses e a chegada do casal de foragidos
parisienses: Valentine (Odette Florelle) e Amédée Lange (René Lefévre). Houve
um crime e Valentine conta a história e pede ao povo que julgue quem atirou
sobre Batala (Jules Berry), patrão prepotente, insolente, endividado, mau
pagador e pior amante.
Afinal, voltamos atrás e revemos em enorme flashback toda a
verdade, e a verdade gira à volta desse Batala (que fantástico é o actor Jules
Berry) e das suas conquistas amorosas e das suas falcatruas e dessa cooperativa
renascida que todos ajuda para que o futuro vença! O Sr. Lange é um autor de
sucesso que cria histórias do faroeste: «Arizona Jim», editadas em livros de
cordel pela milagrosa cooperativa! Até que surge a cena mais extravagante do
filme – o jantar –, seguida das fulgurantes mudanças de campo quando Batala regressa
e é confrontado no pátio junto do chafariz, por Lange. Pistola em riste….
Neste filme há tanto de poético e de belo quanto de riso. Tanto de
intenção política como de psicanálise profundamente enraizada nas mudanças de
paradigma revolucionário de género ou de classe ou de intelectualidade. Muito
de surrealista! Muito de liberdade de improvisação! Tudo do génio de Jean Renoir
ou de Jacques Prévert!
Qualquer coisa a fazer lembrar «A Canção de Lisboa» (José
Cottinelli Telmo, 1933) ou «A Casa na Praça Trúbnaia» (Bris Barnet, 1928).
Um filme absolutamente maravilhoso!
jef, julho 2018
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