Tenho um particular fascínio por livros ilustrados e
intriga-me a razão por que, hoje em dia, quase desapareceram os livros
ilustrados para adultos, como acontecia lá pelos séculos XIX e anteriores. Hoje,
detenho-me avidamente sobre os maravilhosos livros que se editam para crianças
e fico a pensar se os adultos começam a achar de somenos ler um livro com bonecos
que não seja em banda desenhada ou guias de natureza.
Até que a minha querida amiga e colega Paula Bártolo me
mostrou um livro (este!) que acabara de comprar para oferecer às filhas.
Imediatamente tornei-me invejoso, folheando rapidamente as magníficas páginas cobertas de imagens que a artista e bióloga Sabina Radeva para ele desenhou, e que parecem ser a
guache ou pastel de óleo. Ofereci-o ao meu sobrinho Francisco e vi-me obrigado a comprar
um para mim. Tinha de o olhar, lendo-o, com calma.
E qual não é o meu espanto quando me surge um livro com
tanta devoção pela teoria da evolução como pela vida de Charles Darwin, observador irreprimível,
homem sensível, sensato, cândido e de família, oito filhos e cadela Polly. Um cientista que levou vinte anos a publicar em livro as suas avisadas ideias e
reflectidas observações feitas durante as viagens a bordo do veleiro
HMS Beagle.
O livro segue, a par e passo e desenho, os temas das variações
naturais em indivíduos de uma espécie, as adaptações, a selecção feita pelo homem
nas espécies domésticas, a selecção natural e a aptidão de determinados indivíduos para sobreviver no
mundo selvagem, as descontinuidades geográficas e a
oportunidade para as variações, a consequência de tudo isto transmitida às
gerações seguintes, derivando na ramificação de seres cada vez mais complexos e diferenciados.
Mas Sabina Radeva faz mais. No final, em anexos sucintos e
demonstrativos, descreve o que hoje se conhece sobre o ADN e a hereditariedade
e Darwin, então, desconhecia. Explica como as mutações derivam em variações. E,
ainda, sublinha os erros mais comuns ditos sobre a teoria da evolução.
Este livro ensina a observar, a gostar de observar, a
reflectir sobre o imprescindível tempo de observação na ciência e na vida. É um
livro que relembra, a adultos e miúdos, como Darwin fez evoluir o curso
científico neste planeta e a visão moral do respectivo bicho-homem.
jef, março 2020
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