O Sérgio vai à pesca
O Sérgio é um rapaz que gosta de navegar. Sai com o seu barco
a remos e vai à pesca. Como não é pessoa para gostar de engodos, leva a cana
mas esquece-se sempre do isco ou da amostra. Por isso, não pesca nada. Mas
gosta de ficar ali, sobre a película superior do oceano, a ver as gaivinas a
fazerem-no. E como elas o fazem bem. Fica satisfeito em notar a habilidade
que elas têm para vencer a tensão superficial e os erros de paralaxe, trazendo um
peixinho por outro no bico. Repara na tangente à superfície ou na secante no
ponto preciso do mergulho. Função geneticamente empírica. Fica assim, no
silêncio, no interior dos barulhos do mar, pensando na estratégia dessas aves
de cabecinha preta e cauda bifurcada. Ao fim de algumas horas, volta feliz para
casa, remando, não sem ter comido com apetite o pão-de-leite com fiambre e a
maçã que levara na merenda. O Sérgio sabe que quem bem observa melhor pesca.
* Perífrases e quarentena
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