quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Sobre o filme «Uma Gota de Mel» de Tony Richardson, 1961









 





















Manchester on fire and childhood.

Saído da peça de teatro escrita por Shelagh Delaney quando esta tinha 19 anos, conta a história de Josephine (Rita Tushingham) e do seu relacionamento com a sua mãe, Helen (Dora Bryan), com o namorado desta, Peter (Robert Stephens), com o jovem marinheiro negro Jimmy (Paul Danquah), com o jovem estilista e homossexual Geoffrey Ingham (Murray Melvin)...

Na realidade, um filme que utiliza a imagem triste, pobre e suja de Manchester (na melhor fotografia a preto de branco de Walter Lassally), para distanciar do neo-realismo o trágico realismo do sofrimento humano, aproximando-o do expressionismo dramático do cinema mudo.

Este filme deixa-nos a inesquecível substância teatral e emocional, diria mesmo afectiva, das grandes sagas do cinema. Os olhos de Josephine reflectem a inevitável inocência para a pulsão fatídica de Keechie (Cathy O’Donnell) em «Os Filhos da Noite» (Nicholas Ray, 1949), a mesma dádiva apaixonada mas sem retorno de Gelsomina (Giulietta Massina) em «A Estrada» (Federico Fellini, 1954). Também aqui as crianças rodeiam as personagens, coro protector ou enxame ameaçador. Afinal, a cantilena infantil reconcilia-nos com a vida ou acusa uma sociedade de pós-guerra, sem memória, ignóbil e desumana?

Um filme que não pode ser ignorado!


jef, setembro 2020

«Uma Gota de Mel» (A Taste of Honey) de Tony Richardson, 1961. Com Dora Bryan, Robert Stephens, Rita Tushingham, Murray Melvin, Paul Danquah, Michael Bilton. Argumento: Tony Richardson e Shelagh Delaney, baseado na peça desta última. Fotografia: Walter Lassally. Música: John Addison. Produzido: Tony Richardson. Grã-Bretanha, 1961, P/B, 101 min.

 

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