Bem-vindos
ao mundo amedrontado, angustiado, encantado de Sufjan Stevens. «The Ascension»
cria um espelho de fractais electrónicos e desenhados durante 15 canções em loop e 80 minutos de sonho meio-alucinado
meio-planante, distanciando-se, por exemplo, de «Carrie & Lowell» (2015)
não pelo lado interior e psicológico mas pela percussão caleidoscópica que o
músico assume em nome próprio. E com ele, o guitarra-baixo Casey Foubert vai certificando
cada linha melódica soturna e clarividente.
Como
se um certo grunge de Seattle se
casasse com o fumarento trip-hop de
Bristol, amparado pelo drum’n’bass de
Goldie. Estranhamente convoca no mesmo momento o espírito de Beth Gibbons,
Fiona Apple, Kurt Cobain, Prince e Neil Young. Numa doce confusão. Todos juntos enclausurados numa
capela onde as orações esqueceram o fito de Deus. Todos dentro de um elevador
sem paragem pelos andares, durante uma qualquer pandemia.
Brian
Eno parece estar a programar, Beck a destabilizar, Danny Elfman a transmitir
essa notálgica aura coral de filme de fantasia.
Tudo
soa a antigo mas é novíssimo nesse tão difícil equilíbrio dançante entre a
alegria deprimida e o eufórico confinamento, deslizando até essa longa faixa
final, «America»: “Don’t look at me like I’m acting hysterical / Don’t do to
me what you did to America”.
jef,
novembro 2020
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