quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Sobre o disco «The Ascension» de Sufjan Stevens, AKR 2020











Bem-vindos ao mundo amedrontado, angustiado, encantado de Sufjan Stevens. «The Ascension» cria um espelho de fractais electrónicos e desenhados durante 15 canções em loop e 80 minutos de sonho meio-alucinado meio-planante, distanciando-se, por exemplo, de «Carrie & Lowell» (2015) não pelo lado interior e psicológico mas pela percussão caleidoscópica que o músico assume em nome próprio. E com ele, o guitarra-baixo Casey Foubert vai certificando cada linha melódica soturna e clarividente.

Como se um certo grunge de Seattle se casasse com o fumarento trip-hop de Bristol, amparado pelo drum’n’bass de Goldie. Estranhamente convoca no mesmo momento o espírito de Beth Gibbons, Fiona Apple, Kurt Cobain, Prince e Neil Young. Numa doce confusão. Todos juntos enclausurados numa capela onde as orações esqueceram o fito de Deus. Todos dentro de um elevador sem paragem pelos andares, durante uma qualquer pandemia.

Brian Eno parece estar a programar, Beck a destabilizar, Danny Elfman a transmitir essa notálgica aura coral de filme de fantasia.

Tudo soa a antigo mas é novíssimo nesse tão difícil equilíbrio dançante entre a alegria deprimida e o eufórico confinamento, deslizando até essa longa faixa final, «America»: “Don’t look at me like I’m acting hysterical / Don’t do to me what you did to America”.

jef, novembro 2020

 

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