quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Sobre o filme «Quatro Contos» de Gabriel Abrantes, 2015, 2016, 2018



















Autor do surpreendente filme de «Diamantino» (2018), Gabriel Abrantes tem uma enorme intuição para gerir a técnica cinematográfica e a tecnologia digital, libertando a sua veia refractária de olhar as histórias e analisar o mundo. Estes quatro filmes denunciam a sua índole humorística sem freio. E sabe bem ver alguém que no mundo da arte se dá ao luxo de a subverter, rindo dela, sem medo de não cumprir ritmos, rituais e praxes. Como uma criança desaustinada que sabe que tem muito jeito para o non-sense e a gestão narrativa da comédia. Um bocadinho de Edgar Pêra, um bocadinho de Manuel João Vieira, um bocadinho de Monty Python.

«Freud Und Friends» (2015) é uma viagem entre Sigmund Freud, Herner Werzog, um tamboril manipulado clinicamente e a irmã da namorada do paciente mais totó do mundo: Gabriel Abrantes. Os seus sonhos, desvendados no Centro Champalimaud para o Desconhecido, revelarão o neurológico impossível.

«Uma Breve História de Princesa X» (2016) é a história mais rápida dos quatro capítulos (e talvez a mais coerente na sua disparatada velocidade de 7 minutos). Um impossível busto da bisneta de Napoleão, Marie Bonaparte, acaba em objecto fálico de bronze luzidio e aquela em escritora de reputados manuais sobre a sexualidade feminina. 

«Os Humores Artificiais» (2016) revela, em jeito “Pixar”, a terna saga do robô Andy Coughman, programado para a “stand-up comedy”, que se apaixona irremediavelmente pela jovem índia Xingu em pleno Mato Grosso.

Em «As Extraordinárias Desventuras da Menina de Pedra» (2018) as estátuas do Louvre rebelam-se contestando a sua caduca imobilidade, saindo para olhar a revolta nocturna da cidade de Paris. Será este o mais complexo dos filmes mas também aquele cuja irreverência fica cativa numa proposta um tanto ingénua, quase pueril, quase banal.

Gabriel Abrantes é um fenómeno na diversão cinematográfica, na manipulação da tecnologia mas também na captação de investimentos para realizar filmes impensáveis num mundo artístico tão temente às novidades falíveis como é o dos nossos dias.

 

jef, novembro 2020

Capítulo I. Lisboa. «Freud Und Friends». Com Sónia Balacó, Gabriel Abrantes, Carloto Cotta, André E. Teodósio, David Phelps, Joana de Verona. Portugal / Suiça, 2015, Cores, 23 min.

Capítulo II. Paris (e Nova Iorque). «Uma Breve História de Princesa X» (A Brief History of Princess X). Com Francisco Cipriano, Joana Barrios, Filipe Vargas. Portugal / França, 2016, Cores, 7 min.

Capítulo III. Aldeia Yawalapiti (e São Paulo). «Os Humores Artificiais». Com Margarida Lucas, Gilda Nomacce, Ivo Müller, Amanda Rodarte. Portugal / brasil, 2016, Cores, 30 min.

Capítulo IV. Paris (Encore no Louvre). «As Extraordinárias Desventuras da Menina de Pedra» (Les Extraordinaires Mesaventures de la Jeune Fille de Pierre). Com Liza Lapert, Virgil Vernier, Vimala Pons, Alexis Manenti, Annie Mercier, Caroline Reruas. Portugal / França, 2018, Cores, 20 min.

 

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