Surge como uma série de quadros remanescente do filme
anterior, «Chungking Express» (1994). Dois personagens com as suas histórias
percorrem esteticamente a noite imparável de Hong Kong, iluminada por néons, ao
som do chocalhar das pedras de Majongue. Uma noite que, apesar de atafulhada de
gente, de snack-bares orientais e diners
fumarentos mantém cada um deles no seu mundo perfeito e solitário. Wong
Chi-ming (Leon Lai) é assassino profissional e recebe mensagens por fax com os
trabalhos a executar. Ho Chi-mo (Takeshi Kaneshiro), foge à polícia, vive com o
pai, não fala, obriga todos os que encontra a serem seus clientes em negócios
que foi engendrando: geladaria, talho, lavandaria, barbearia. O primeiro não
deseja conhecer a sua parceira de profissão por temer apaixonar-se. O segundo
aprende a filmar em vhs e grava o último bife que o pai lhe frita. Uma rapariga
de cabelos louros difíceis de esquecer une os dois personagens. Uma das canções
da jukebox contém um derradeiro recado.
Talvez seja o filme em que o próprio realizador se deslumbra
com o deslumbramento da sua própria linguagem, levando o filme atrás de um
sentido musical que nos faz parar diante das canções. Laurie Anderson &
Brian Eno, Massive Attack, Marianne Faithfull. Não lhe podemos escapar. Se a
banda sonora e as imagens feéricas tornam «Anjos Caídos» num filme musical ou
num vídeo-clip de longa-metragem é pouco importante!
O que importa é mesmo a irreal realidade do cinema de Wong
Kar Wai.
jef, dezembro 2020
«Anjos Caídos» (Fallen Angels) de Wong Kar Wai. Com
Leon Lai, Michelle Reis, Takeshi Kaneshiro, Charlie Yeung, Karen Mok, Fai-Hung
Chan, Man-Lei Chan, Toru Saito, To-Hoi Kong, Lee-Na Kwan, Yuhao Wu. Argumento: Wong Kar Wai.
Fotografia: Christopher Doyle, Andrew Lau Wai Keung. Música: Frankie Chan, Roel
A. García. Produção: Wong Kar Wai, Chan Ye Cheng, Jacky Pang Yee Wah, Jet Tone
Productions Ltd. Hong Kong / China, 1995, Cores, 99 min.
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