Se existe um filme de Natal é este. Talvez até mais do que «Do
Céu Caiu uma Estrela» (Frank Capra, 1946), «Música no Coração» (Robert Wise,
1965), «Mary Poppins, (Robert Stevenson, 1964) ou «O Estranho Mundo de Jack» (Henry
Selick, 1993). Talvez mesmo mais literário que «O Conto de Natal do
Senhor Scrooge». É a história de um homem que deseja ainda voltar a contemplar
as estrelas junto do seu irmão.
Vejo-o para refazer a minha ideia de humanidade e de uma América
clara, complacente, solidária, solitária, percorrendo nostalgicamente as suas
extensões on the road.
Evidentemente, um filme sobre o tempo irrecuperável que me
faz sempre chorar baba e ranho. Porém, todo o poder irónico e visual de David
Lynch está lá, em cores saturadas, junto às casas, ao solo, aos relvados, ao
asfalto, filmado abstractamente tão perto da figura de todos os americanos como do perfil de cada um deles. Um sarcástico carinho transbordante, sublinhando
não os defeitos dos homens mas a sua capacidades de os superar.
Dedicado a Alvin Straight (1920-1996) que oferece a história
verdadeira de um homem de 73 anos, combatente da Segunda Grande Guerra, que
vive com a sua dedicada filha, Rose (Sissy Spacek). Ao receber a notícia de que
o irmão Lyle (Harry Dean Stanton) está gravemente doente resolve ir visitá-lo,
recuperando uma amizade perdida há dez anos. Alvin (Richard Farnsworth) não tem
carta de condução e não gosta de ser conduzido, por isso fará a viagem de 500
km, desde Laurens no Iowa até Mount Zion no Wisconsin, conduzindo um cortador
de relva durante seis semanas.
Não há história mais simples e terna sobre o fim do tempo. Ou,
melhor, sobre a sua duplicação.
jef, dezembro 2020
«Uma História Simples» (The Straight
Story) de David Lynch. Com Richard Farnsworth, Sissy Spacek, Jane Galloway
Heitz, Joseph A. Carpenter, Donald Wiegert, Tracey Maloney, Dan Flannery, Jennifer
Edwards-Hughes, Ed Grennan, Jack Walsh, Matt
Guidry, Bill McCallum, Barbara E. Robertson, Everett McGill, Anastasia Webb,
James Cada, Sally Wingert, Barbara Kingsley, Ralph Feldhacker, Harry Dean
Stanton. Argumento: John
Roach, Mary Sweeney. Música: Angelo Badalamenti. Fotografia: Freddie Francis. Produção: Pierre
Edelman, Neal Edelstein, Michael Polaire, Mary Sweeney. EUA, 1994, Cores, 112
min.
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