quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Sobre o livro «A Situação do Homem no Cosmos» de Max Scheler, Texto & Grafia, 2008. Tradução de Artur Morão.



Este livro não é para fracos.

Um pequeno grande tratado sobre antropologia filosófica, ou seja, sobre essa forma de “mostrar como da estrutura fundamental do homem derivam todos os seus monopólios, todas as suas produções e obras específicas”. A partir de uma conferência dada em 24 de Abril de 1927, Max Scheler desenvolve um fascinante e vigoroso périplo que se inicia com o centralizador impulso da planta, passa pelo instinto e pela inteligência prática dos animais, e chega ao homem que reconhece o objecto no espelho eidético do espaço e do tempo mas, recusando e sublimando o impulso para a realidade, vai reencontrar-se com o espírito que se afigura mais além. Nesse ponto médio entre a energia vital e o espírito, ele depara-se com o ser no mundo, o cosmo, e, para lá, com uma divindade por construir. Quer dizer que o homem fugindo do nada atómico acaba por descobrir um Deus incompleto, ou seja, regressa afinal dessa imensa viagem com uma mão aparentemente cheia de muito pouco. Ao longo deste sinuoso percurso poderão ter errado Platão, Tomás de Aquino, Darwin, Hegel, Marx, Freud, Husserl, ou sobretudo Descartes. Porém, Buda e Hölderlin terão acertado. Numa escrita simples, pedagógica, viva, por vezes a tocar o humor, Max Scheler explica o inexplicável: o que é e onde está o homem, rematando sem qualquer tipo de contemplações: “a metafísica não é nenhuma companhia de seguros para homens fracos, com necessidade de apoio”.

 

jef, agosto 2008

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