terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Sobre o filme «Estranhos de Passagem» de Stephen Frears, 2002



 














Um dos meus filmes de sempre, daqueles que jamais me cansarei de rever. E não é apenas por ouvir durante a ficha técnica final «Glass, Concrete & Stone», uma das mais bonitas canções na fase II de David Byrne (in «Grown Backwards», Nonesuch 2004).

Também não será somente pelo ternurento confronto das duas personagens que, partilhando um pequeno apartamento, não se podem encontrar em público por causa dos serviços de estrangeiros e dos inspectores de trabalho. O actor Chiwetel Ejiofor dá corpo a Okwe, o imigrante nigeriano ilegal que partilha a casa clandestinamente com Audrey Tautou, a jovem turca Senay que não possui licença de trabalho. Encontram-se de fugida no hotel do pérfido Señor Juan, um magnífico Sergi López que ganha a vida alugando quartos para ali vender a vida de alguns pobres aos que, tendo dinheiro, podem comprar para a sua própria sobrevivência.

Acima de tudo, comove-me a perícia de Stephen Frearas para transformar, pelo ritmo do suspense, pela carinhosa fraternidade de todos aqueles estrangeiros de passagem, a realidade trágica das sociedades ocidentais “ricas” numa espécie de triste comédia ultra-romântica.

Através do labor angustiado dos belos Senay e Okwe, também das amizades do porteiro russo Ivan (Zlatko Buric), da prostituta Juliette (Sophie Okonedo) ou do sábio operador da morgue Guo Yi (Benedict Wong), a hostil cidade de Londres transforma-se, de certo modo, num recanto solidário de esperança e amorosa humanidade.


jef, dezembro 2020

«Estranhos de Passagem» (Dirty Pretty Things) de Stephen Frears. Com Chiwetel Ejiofor, Audrey Tautou, Sergi López, Benedict Wong, Sophie Okonedo, Zlatko Buric, Jeffery Kissoon, Kriss Dosanjh, Israel Oyelumade, Yemi Goodman, Nizwar Karanj, Paul Bhattacharjee, Darrell D'Silva, Barber Ali, Rita Hamill, Josef Altin, Ron Stenner, Kenan Hudaverdi, Adrian Scarborough. Argumento: Steven Knight. Fotografia: Chris Menges. Música: Nathan Larson. Grã-Bretanha, 2002, Cores, 93 min.

 

Sem comentários:

Enviar um comentário