Um dos meus filmes de sempre, daqueles que jamais me
cansarei de rever. E não é apenas por ouvir durante a ficha técnica
final «Glass, Concrete & Stone», uma das mais bonitas canções na fase II de
David Byrne (in «Grown Backwards»,
Nonesuch 2004).
Também não será somente pelo ternurento confronto das duas
personagens que, partilhando um pequeno apartamento, não se podem encontrar em
público por causa dos serviços de estrangeiros e dos inspectores de trabalho. O
actor Chiwetel Ejiofor dá corpo a Okwe, o imigrante nigeriano ilegal que
partilha a casa clandestinamente com Audrey Tautou, a jovem turca Senay que não
possui licença de trabalho. Encontram-se de fugida no hotel do pérfido Señor
Juan, um magnífico Sergi López que ganha a vida alugando quartos para ali
vender a vida de alguns pobres aos que, tendo dinheiro, podem comprar para a
sua própria sobrevivência.
Acima de tudo, comove-me a perícia de Stephen Frearas para
transformar, pelo ritmo do suspense, pela carinhosa fraternidade de todos aqueles estrangeiros de
passagem, a realidade trágica das sociedades ocidentais “ricas” numa espécie de
triste comédia ultra-romântica.
Através do labor angustiado dos belos Senay e Okwe, também das
amizades do porteiro russo Ivan (Zlatko Buric), da prostituta Juliette (Sophie
Okonedo) ou do sábio operador da morgue Guo Yi (Benedict Wong), a hostil cidade
de Londres transforma-se, de certo modo, num recanto solidário de esperança e amorosa humanidade.
jef, dezembro 2020
«Estranhos de Passagem» (Dirty Pretty Things) de Stephen
Frears. Com Chiwetel Ejiofor, Audrey Tautou, Sergi López, Benedict Wong, Sophie
Okonedo, Zlatko Buric, Jeffery Kissoon, Kriss Dosanjh, Israel Oyelumade, Yemi
Goodman, Nizwar Karanj, Paul Bhattacharjee, Darrell D'Silva, Barber Ali, Rita
Hamill, Josef Altin, Ron Stenner, Kenan Hudaverdi, Adrian Scarborough. Argumento:
Steven Knight. Fotografia: Chris Menges. Música: Nathan Larson. Grã-Bretanha, 2002,
Cores, 93 min.
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