O caminho que os filmes de Agnès Varda têm levado seria
resumido como o caminho da Ecologia. No primeiro sentido da palavra. O caminho
da casa, da infância, do retorno ao que nós fomos, ainda somos, mas
simultaneamente já desapareceu. A memória tenta recuperá-lo mas vai-lhe alterando
os contornos. Agnès Varda tem consciência do facto. Usa-o como modo
narrativo.
O caminho de «As Praias de Agnès Varda» também é ecológico no
segundo e mais recente significado da palavra. Ela recicla todos os materiais-memórias,
sabendo que reciclar é buscar no passado para construir uma ponte para o
futuro, e deste para um Futuro Novo. Agnés Varda tinha 72 quando realizou «Os
Respigadores e a Respigadora», 80 anos quando filmou as suas praias. Aos
90 anos, realiza «Olhares Lugares» sobre as faces e as paisagens francesas que
se vão desvanecendo. Mas ainda existem.
Por isso, ela usa espelhos e fotografias. Anda para trás.
Obriga outros a recuar. Fala da guerra, de judeus e da sua perseguição, fala da
América e das lutas estudantis, fala das viagens com os irmãos e os pais pela
Bélgica, por França, de carro, de barco, em fuga. Fala das suas exposições de fotografia.
Fala de Jacques Demy, dos filhos e netos. Fala das suas casas e dessa reconstrução
eterna na vida que se escoa pelos dedos do dia que chegará. Até ao
último.
Agnès Varda fala-nos desse último dia mas sempre com a
alegria da criatividade e diz que sempre poderemos comemorar um outro e próximo
aniversário, onde nos oferecerão oitenta e mais uma vassouras. Temos é que rir
do passado e sonhar com o futuro.
jef, junho 2018
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